São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 2002

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FRAUDES DO CAPITAL

Empresa deve US$ 32 bilhões e controla a Embratel no Brasil; fraude financeira foi golpe final na tele

WorldCom pede maior concordata dos EUA

DA REDAÇÃO

A WorldCom pediu concordata na noite de ontem a um tribunal de Nova York. A insolvência da gigante de telecomunicações desbanca a da Enron como a maior concordata da história dos Estados Unidos. As duas empresas também lideram a lista de fraudes contábeis, que abalam as Bolsas.
A empresa espera evitar que suas subsidiárias internacionais sigam o mesmo destino da matriz. No Brasil, a WorldCom controla a Embratel, que também enfrenta dificuldades e crescentes boatos de que seria vendida, embora as leis brasileiras por ora barrem o negócio. A empresa emprega 85.000 pessoas em 65 países.
A quebra da tele deve provocar ainda mais estragos no mercado financeiro. "Isso não vai ser uma marola num lago. Vai ser um maremoto", avalia Jeff Kagan, analista de telecomunicações.
Em junho, a empresa havia dado início à segunda onda de revelações de escândalos financeiros nos EUA. A série fora aberta pela gigante de negócios com energia Enron, no final de 2002.
A WorldCom opera ligações telefônicas de longa distância. Tem como seus principais clientes a Nasdaq, a AOL Time Warner, a BP Amoco e o Departamento de Defesa dos EUA (o Pentágono).

Fraude no balanço
A empresa deu o último passo para a insolvência ao anunciar que fraudou seus balanços em cerca de US$ 3,85 bilhões, o que levou as autoridades americanas a abrirem processo criminal para investigá-la. A fraude motivou irado discurso do presidente dos EUA, George W. Bush, e também críticas contra o presidente, julgado incapaz de propor medidas eficazes contra burlas contábeis.
O escândalo barrou as últimas chances de a companhia obter um empréstimo bancário de US$ 5 bilhões, necessário para rolar dívidas totais de US$ 32 bilhões.
Agora, a WorldCom espera que os bancos JP Morgan Chase, Citigroup e a GE Capital consigam empréstimos para evitar a sua falência -mas a empresa precisa da autorização do juiz de sua concordata para obter o dinheiro.

Derrocada
Perto do auge da bolha especulativa nas Bolsas dos EUA, em meados de 1999, o valor de mercado da WorldCom atingiu seu pico: US$ 120 bilhões. Na sexta-feira, a empresa valia US$ 280 milhões. Ainda em março, analistas financeiros dos maiores bancos de Wall Street recomendavam a compra de ações da empresa, as quais, estimavam, poderiam crescer até três vezes neste ano.
Os tormentos da empresa começaram a vir a público em abril, quando seu fundador e principal executivo por 19 anos, Bernard "Bernie" Ebbers, foi obrigado a renunciar depois do anúncio de que ele havia obtido da companhia empréstimos pessoais de US$ 400 milhões, mais que o valor da empresa na sexta passada.
A seguir, Scott Sullivan, diretor financeiro, e David Myers, o controlador da empresa, renunciaram logo depois da divulgação das fraudes nos balanços, em junho. A empresa havia contabilizado despesas como investimentos, o que permitiu a declaração de lucros quando na verdade o prejuízo fora de US$ 1,2 bilhões.
"Essa é uma situação em que todo mundo perde", diz Scott Cleland, presidente da Precursor Group, uma empresa de pesquisa em telecomunicações. "É como um vírus que pega todo mundo. Os fornecedores vão levar um golpe. Quem faz negócios com eles vai levar um golpe. Um monte de dívida podre terá de ser absorvida", diz o executivo.


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