São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2000

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Discretas, as plantações sobrevivem

DO ENVIADO ESPECIAL AO CHAPARE

Com boa dose de cautela e discrição, muitos camponeses da região do Chapare mantêm pequenas plantações de coca, muito bem escondidas e cercadas por plantas de outros tipos.
A reportagem da Folha pôde observar algumas dessas plantações em diversos lotes de terra a poucos quilômetros do quartel militar de Chimoré, a principal base de operações para as ações de erradicação da coca.
Na maioria das vezes, o número de arbustos em cada terreno não chega a dez. Em alguns casos, como o do agricultor Francisco Montaño, 40, as plantações têm um tamanho razoável.
Em seu terreno, Montaño mantém uma área de cerca de 500 m2 plantada com arbustos de coca, cercada de plantações de abacaxis e bananas.
Quando questionado pela reportagem sobre a propriedade da plantação, Montaño negou ser o dono. Só confirmou após ter sido "delatado" pelo filho Felipe, 12.
"Eu continuo plantando coca para conseguir sobreviver porque, com as outras plantações, estou só perdendo dinheiro", disse ele, na casa simples de madeira onde vive com a família.
Ele conta que já teve sua plantação cortada uma vez pela polícia. "Antes eu tinha uma plantação maior, mas há um ano vieram os policiais e cortaram tudo", afirma Montaño.
Ele diz temer que sua plantação seja descoberta pela polícia, mas afirma que prefere correr o risco. "Não tenho outra saída", diz.

Terreno ruim
A agricultora Virgínia Magne, 40, também admitiu à Folha que continua plantando coca em seu terreno, apesar do medo da repressão.
"Os terrenos aqui são de areais, que não servem para nenhuma outra coisa", justifica.
Ela reclama das precárias condições proporcionadas pelos programas de desenvolvimentos alternativos para que os camponeses da região abandonem o cultivo da coca. "Em troca da erradicação das plantações de coca, nos dão uma vaca ou um porco que não vale 40 pesos bolivianos (cerca de US$ 6,35). Querem nos enganar", reclama. "Só mortos desistiremos desta luta." (RW)



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