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Discretas, as plantações sobrevivem
DO ENVIADO ESPECIAL AO CHAPARE
Com boa dose de cautela e discrição, muitos camponeses da região do Chapare mantêm pequenas plantações de coca, muito
bem escondidas e cercadas por
plantas de outros tipos.
A reportagem da Folha pôde
observar algumas dessas plantações em diversos lotes de terra a
poucos quilômetros do quartel
militar de Chimoré, a principal
base de operações para as ações
de erradicação da coca.
Na maioria das vezes, o número
de arbustos em cada terreno não
chega a dez. Em alguns casos, como o do agricultor Francisco
Montaño, 40, as plantações têm
um tamanho razoável.
Em seu terreno, Montaño mantém uma área de cerca de 500 m2
plantada com arbustos de coca,
cercada de plantações de abacaxis
e bananas.
Quando questionado pela reportagem sobre a propriedade da
plantação, Montaño negou ser o
dono. Só confirmou após ter sido
"delatado" pelo filho Felipe, 12.
"Eu continuo plantando coca
para conseguir sobreviver porque, com as outras plantações, estou só perdendo dinheiro", disse
ele, na casa simples de madeira
onde vive com a família.
Ele conta que já teve sua plantação cortada uma vez pela polícia.
"Antes eu tinha uma plantação
maior, mas há um ano vieram os
policiais e cortaram tudo", afirma
Montaño.
Ele diz temer que sua plantação
seja descoberta pela polícia, mas
afirma que prefere correr o risco.
"Não tenho outra saída", diz.
Terreno ruim
A agricultora Virgínia Magne,
40, também admitiu à Folha que
continua plantando coca em seu
terreno, apesar do medo da repressão.
"Os terrenos aqui são de areais,
que não servem para nenhuma
outra coisa", justifica.
Ela reclama das precárias condições proporcionadas pelos programas de desenvolvimentos alternativos para que os camponeses da região abandonem o cultivo da coca. "Em troca da erradicação das plantações de coca, nos
dão uma vaca ou um porco que
não vale 40 pesos bolivianos (cerca de US$ 6,35). Querem nos enganar", reclama. "Só mortos desistiremos desta luta."
(RW)
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