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Relações comerciais com o Brasil
podem substituir receita perdida
DO ENVIADO ESPECIAL À BOLÍVIA
O Brasil terá um papel de destaque na busca de uma solução, a
médio prazo, para a crise econômica criada com o impacto do
programa de erradicação da coca
na Bolívia. Até 2004, com a utilização plena do gasoduto Brasil-Bolívia, as importações anuais de gás
natural boliviano pelo Brasil deverão atingir US$ 500 milhões, o
equivalente ao montante que se
estima ter deixado de circular na
economia formal do país com o
combate à coca.
Proporcionalmente seria como
se o Brasil (cujo Produto Interno
Bruto é quase cem vezes o boliviano) tivesse um produto que, de
uma hora para outra, pudesse gerar uma receita anual de US$ 50
bilhões.
As exportações de gás deverão
colocar em pé de igualdade os
dois lados da balança comercial
boliviana com o Brasil. Hoje, a desigualdade entre exportações e
importações é enorme.
No ano passado, por exemplo, o
Brasil importou da Bolívia US$
23,1 milhões e exportou US$ 443
milhões. Em 1998, a diferença foi
ainda maior. O Brasil importou
US$ 22,4 milhões e exportou US$
675,8 milhões.
Com o crescimento das exportações bolivianas de gás natural, o
Brasil se tornará o principal parceiro comercial do país, ultrapassando, em volume, todos os países da União Européia, que no
ano passado foram o principal
destino dos produtos bolivianos,
totalizando US$ 282,7 milhões.
Além do gás, os projetos de
construção de estradas com participação brasileira também devem
ajudar o país a sair do atoleiro em
que se encontra. Empreiteiras
brasileiras participam também
em diversos projetos de construção de estradas consideradas estratégicas para o país.
Hoje, um dos grandes problemas encontrados pelos produtores bolivianos é a falta de infra-estrutura para o escoamento da
produção, pela precariedade das
estradas e ferrovias. Isso encarece
o transporte e reduz a competitividade dos produtos bolivianos
no mercado externo.
Um dos principais projetos em
estudo é a construção de uma estrada entre Santa Cruz e Corumbá
(MS), que se tornaria a principal
ligação entre os dois países. A ligação entre as duas cidades, numa distância de pouco mais de
400 km, é feita por estradas de terra, numa viagem que dura, muitas vezes, mais de um dia.
Outro meio de ligação entre os
dois países é por trem, mas não
existe uma conexão entre a linha
que liga Bauru, no interior de São
Paulo, a Corumbá e a linha que liga Santa Cruz a Puerto Quijarro,
no lado boliviano da fronteira.
Para transportar algum produto
por esse meio da Bolívia ao Brasil,
é necessário descarregá-lo em
Puerto Quijarro, transportá-lo
pela estrada por alguns quilômetros e voltar a embarcá-lo em Corumbá, já em território brasileiro.
A estrada entre Santa Cruz e Corumbá, cujo custo é estimado em
US$ 400 milhões, ainda não tem
data prevista para o início das
obras. Além dela, existem ainda
outros projetos de construção de
estradas com participação de empresas brasileiras, como as ligações entre a cidade boliviana de
Desaguadero ao porto de Ilo (no
oceano Pacífico), no Peru e entre
o sul da Bolívia e o norte da Argentina.
Controle de fronteira
Mas nem só de elogios vive a relação entre os dois países. Para o
ministro de Governo boliviano,
Guillermo Fortún, o Brasil, como
principal mercado para a pasta-base de coca e a cocaína bolivianas, deveria ajudar mais o país a
controlar o narcotráfico.
"Essa é uma questão de dignidade para o povo brasileiro também", afirma. "A fronteira entre
os dois países é grande, e deveria
haver um esforço maior para controlá-la", diz. Segundo ele, outros
países da região têm auxiliado
mais a Bolívia. "Temos muito
mais contatos nesse sentido com
outros países vizinhos, como o
Chile e a Argentina."
O embaixador brasileiro na Bolívia, Stélio Amarante, contesta as
afirmações de Fortún. Segundo
ele, existem diversos acordos bilaterais de cooperação para o controle da fronteira, sendo que o primeiro deles foi assinado em 1988.
Ele cita ainda uma visita à Bolívia feita em março pelo então secretário nacional Antidrogas,
Walter Maierovitch, para discutir
o tema da cooperação mútua no
combate ao narcotráfico.
Segundo ele, o governo brasileiro não contribui financeiramente
com o Plano Dignidade -como
fazem os EUA, por exemplo-
por acreditar que isso estabeleceria uma relação paternalista entre
os dois países.
(RW)
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