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Rival de Hu Jintao deixa comando do PC
Manobra do presidente chinês exclui Zeng Qinghong do Comitê Central do partido, afastando-o também do Politburo
Adversário se "aposentou"
por ter 68 anos; seu nome
não aparecia na cédula para
a escolha do Comitê Central,
do qual sai nata do Politburo
CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM
O mais forte adversário do
presidente Hu Jintao no grupo
de nove pessoas que detêm o
poder máximo na China deixou
o cargo ontem, no encerramento do 17º Congresso do Partido
Comunista.
Zeng Qinghong não está entre os 371 escolhidos para o Comitê Central, o que significa
que ele não poderá ser reconduzido ao Comitê Permanente
do Politburo, cujos integrantes
serão conhecidos hoje.
Quatro dos nove postos do
mais poderoso órgão de direção
da China serão renovados, em
um movimento que pode reforçar a posição de Hu e abrir caminho para ascensão da geração que assumirá o poder a partir de 2012 e comandará o país
pelo menos até 2017.
Aliado do ex-presidente
Jiang Zemin, Zeng Qinghong
era considerado a principal
sombra ao poder de Hu dentro
do organismo.
A sua exclusão do Politburo
não foi resultado de rejeição
por parte dos delegados. Com
68 anos, Zeng já tem a idade
que o Partido Comunista costuma adotar para a aposentadoria dos ocupantes de seus organismos de liderança.
Sua saída estava decidida antes da votação, e seu nome não
foi incluído na relação de candidatos submetida aos 2.213
delegados.
Aposentadoria
Como ocorre com líderes
proeminentes, a aposentadoria
tem peso simbólico e é vista como um exemplo a ser seguido
pelos ocupantes de cargos inferiores, para que haja renovação
nos organismos de comando do
partido. O gesto era esperado,
mas não havia garantia de que
ele ocorresse.
Outros que deixaram seus
cargos em razão da idade foram
Wu Guanzheng, 69, ligado a
Jiang Zemin, e Luo Gan, 73. O
quarto posto está vago desde
junho, quando morreu Huang
Ju, também ligado a Jiang Zemin, que é o principal oponente
de Hu Jintao na disputa de poder no partido.
O ex-presidente é o líder da
facção de Xangai, identificada
com empresários poderosos e a
próspera costa leste do país. Hu
é considerado um "populista"
com características chinesas,
preocupado com a empobrecida área rural e o desequilíbrio
entre o leste e o oeste.
Apesar das diferenças, o congresso deixou claro que o crescimento continua a ser a prioridade de Hu e de seu governo.
O líder chinês ganhou com a
aposentadoria de Zeng, mas foi
obrigado a engolir a manutenção no Comitê Permanente do
Politburo de Jia Qingling, 67,
outro protegido de Jiang Zemin, que sobreviveu apesar de
ser suspeito de corrupção.
Expectativa
A expectativa agora é em relação aos quatro novos integrantes do Comitê Permanente
do Politburo, entre os quais estará o homem que deverá suceder Hu em 2012, quando o presidente deixará o cargo.
O candidato de sua preferência é Li Keqiang, 52, chefe do
partido na Província de Liaoning. Mas Hu poderá ter de
aceitar o nome de Xi Jinping,
54, que comanda o partido em
Xangai e é próximo de Jiang
Zemin.
A saída do mais forte aliado
do ex-presidente no Politburo
reforça a última possibilidade e
seria o preço que Hu pagaria
para se livrar da sombra de
Zeng Qinghong.
Outros nomes cotados são Li
Yuanchao, 57, chefe do partido
em Jiangsu, e Wang Yang, 52,
que ocupa o mesmo cargo na
província de Chongqing.
A exemplo de Li Keqiang,
ambos integram o grupo que
provém da Liga da Juventude
Comunista, onde está a principal base política do atual presidente.
O novo Comitê Central faz
hoje sua primeira reunião plenária, na qual elegerá o Politburo, órgão cúpula formado por
24 pessoas. Em seguida, os 24
escolherão os nove integrantes
do Comitê Permanente.
Legado teórico
Com a emenda à Constituição, o atual presidente manteve
a tradição iniciada por Mao
Tsé-tung de cada líder deixar
no texto o que julga ser seu legado teórico ao partido, ao lado
do marxismo-leninismo.
Enquanto a teoria das "três
representações" de Jiang Zemin abriu as portas da organização para os empresários, o
"desenvolvimento científico"
de Hu busca um modelo de
crescimento sustentável, com
consumo mais racional de
energia e recursos naturais.
Resta saber se a teoria é viável diante da importância que o
crescimento tem para legitimar
o poder do partido e da necessidade de incorporar 10 milhões
de pessoas ao mercado de trabalho todos os anos.
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