São Paulo, segunda-feira, 22 de outubro de 2007

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Rival de Hu Jintao deixa comando do PC

Manobra do presidente chinês exclui Zeng Qinghong do Comitê Central do partido, afastando-o também do Politburo

Adversário se "aposentou" por ter 68 anos; seu nome não aparecia na cédula para a escolha do Comitê Central, do qual sai nata do Politburo

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM

O mais forte adversário do presidente Hu Jintao no grupo de nove pessoas que detêm o poder máximo na China deixou o cargo ontem, no encerramento do 17º Congresso do Partido Comunista.
Zeng Qinghong não está entre os 371 escolhidos para o Comitê Central, o que significa que ele não poderá ser reconduzido ao Comitê Permanente do Politburo, cujos integrantes serão conhecidos hoje.
Quatro dos nove postos do mais poderoso órgão de direção da China serão renovados, em um movimento que pode reforçar a posição de Hu e abrir caminho para ascensão da geração que assumirá o poder a partir de 2012 e comandará o país pelo menos até 2017.
Aliado do ex-presidente Jiang Zemin, Zeng Qinghong era considerado a principal sombra ao poder de Hu dentro do organismo.
A sua exclusão do Politburo não foi resultado de rejeição por parte dos delegados. Com 68 anos, Zeng já tem a idade que o Partido Comunista costuma adotar para a aposentadoria dos ocupantes de seus organismos de liderança.
Sua saída estava decidida antes da votação, e seu nome não foi incluído na relação de candidatos submetida aos 2.213 delegados.

Aposentadoria
Como ocorre com líderes proeminentes, a aposentadoria tem peso simbólico e é vista como um exemplo a ser seguido pelos ocupantes de cargos inferiores, para que haja renovação nos organismos de comando do partido. O gesto era esperado, mas não havia garantia de que ele ocorresse.
Outros que deixaram seus cargos em razão da idade foram Wu Guanzheng, 69, ligado a Jiang Zemin, e Luo Gan, 73. O quarto posto está vago desde junho, quando morreu Huang Ju, também ligado a Jiang Zemin, que é o principal oponente de Hu Jintao na disputa de poder no partido.
O ex-presidente é o líder da facção de Xangai, identificada com empresários poderosos e a próspera costa leste do país. Hu é considerado um "populista" com características chinesas, preocupado com a empobrecida área rural e o desequilíbrio entre o leste e o oeste.
Apesar das diferenças, o congresso deixou claro que o crescimento continua a ser a prioridade de Hu e de seu governo.
O líder chinês ganhou com a aposentadoria de Zeng, mas foi obrigado a engolir a manutenção no Comitê Permanente do Politburo de Jia Qingling, 67, outro protegido de Jiang Zemin, que sobreviveu apesar de ser suspeito de corrupção.

Expectativa
A expectativa agora é em relação aos quatro novos integrantes do Comitê Permanente do Politburo, entre os quais estará o homem que deverá suceder Hu em 2012, quando o presidente deixará o cargo.
O candidato de sua preferência é Li Keqiang, 52, chefe do partido na Província de Liaoning. Mas Hu poderá ter de aceitar o nome de Xi Jinping, 54, que comanda o partido em Xangai e é próximo de Jiang Zemin.
A saída do mais forte aliado do ex-presidente no Politburo reforça a última possibilidade e seria o preço que Hu pagaria para se livrar da sombra de Zeng Qinghong.
Outros nomes cotados são Li Yuanchao, 57, chefe do partido em Jiangsu, e Wang Yang, 52, que ocupa o mesmo cargo na província de Chongqing.
A exemplo de Li Keqiang, ambos integram o grupo que provém da Liga da Juventude Comunista, onde está a principal base política do atual presidente.
O novo Comitê Central faz hoje sua primeira reunião plenária, na qual elegerá o Politburo, órgão cúpula formado por 24 pessoas. Em seguida, os 24 escolherão os nove integrantes do Comitê Permanente.

Legado teórico
Com a emenda à Constituição, o atual presidente manteve a tradição iniciada por Mao Tsé-tung de cada líder deixar no texto o que julga ser seu legado teórico ao partido, ao lado do marxismo-leninismo.
Enquanto a teoria das "três representações" de Jiang Zemin abriu as portas da organização para os empresários, o "desenvolvimento científico" de Hu busca um modelo de crescimento sustentável, com consumo mais racional de energia e recursos naturais.
Resta saber se a teoria é viável diante da importância que o crescimento tem para legitimar o poder do partido e da necessidade de incorporar 10 milhões de pessoas ao mercado de trabalho todos os anos.

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