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ARGENTINA
Em greve de fome há 108 dias, 12 condenados por ataque a quartel em 89 querem novo julgamento
Guerrilheiros de La Tablada perdem apelação
JOSÉ ALAN DIAS
DE BUENOS AIRES
A Suprema Corte da Argentina
rechaçou ontem o pedido de revisão da condenação de 12 presos
pelo ataque guerrilheiro ao quartel de La Tablada, nas cercanias de
Buenos Aires, em 1989.
A iniciativa da apelação, negada
por 5 votos a 4, partira do governo
argentino, pressionado pela greve
de fome dos condenados, que já
dura 108 dias.
Os guerrilheiros exigem o direito a um julgamento em segunda
instância -dispositivo não previsto na lei especial de defesa da
democracia que serviu de base
para a condenação.
Em abril de 1989, um grupo de
guerrilheiros do Movimento Todos pela Pátria (MTP) atacou o regimento militar de La Tablada.
Após dez horas de combate, 39
pessoas morreram (28 integrantes do MTP, 7 soldados, 1 policial
e 3 civis).
Em sua defesa, os guerrilheiros
alegaram que ação fora deflagrada para evitar um golpe contra o
governo Raúl Alfonsín (1983-1989), o primeiro presidente do
período pós-regime militar (1976-1983). A Promotoria os acusou de
tentativa de golpe, e eles foram
condenados à prisão perpétua.
Entre os presos em greve de fome está Enrique Gorriarán Merlo,
um dos mais notórios guerrilheiros de esquerda das décadas de 70
e 80 e que participou, em 1980, do
assassinato do ditador nicaraguense Anastasio Somoza, no Paraguai.
Tanto o governo como o Congresso argentino haviam se esquivado de tomar uma decisão final
sobre os pedidos de presos e familiares para que houvesse um novo
júri para o caso.
Em princípio, o governo solicitou aos parlamentares que estudassem uma medida para modificar a lei que impede o julgamento
em nova instância. Como o Congresso reagiu de forma negativa,
não restou ao Executivo outro
meio que não solicitar o recurso
junto à Suprema Corte.
Anteontem, o ministro do Interior, Federico Storani, declarou
que o governo decidira apelar ao
Supremo aceitando recomendação feita pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos. E
advertiu que, diante da possibilidade de não obter êxito -o que
acabou ocorrendo ontem-, o
governo poderia apelar para um
decreto presidencial para fazer o
que ""a Suprema Corte e o Congresso Nacional não fizeram".
Para membros do próprio Supremo, se tomar tal atitude o governo estará correndo um risco
político desnecessário. Mas a administração de Fernando de la
Rúa teme ficar manchada com
uma eventual morte por causa da
greve de fome.
Em vista ao país, há uma semana, o português José Saramago,
Nobel de Literatura, declarou-se
favorável ao indulto de vários dos
guerrilheiros. Saramago acusou
tanto o governo de crueldade e
também pediu um segundo julgamento.
Outro Prêmio Nobel de Literatura, o alemão Günter Grass, também manifestou apoio aos condenados de La Tablada.
""A situação dos detidos está nas
mãos do presidente De la Rúa",
afirmou o advogado do grupo,
Adrián Wittenberg. De acordo
com ele, 2 dos 12 presos estão com
grau severo de desnutrição.
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