|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PRIMEIRA MISSA
João Paulo 2º fala de educação, família e aborto e faz novas críticas ao regime comunista de Fidel Castro
Papa pede volta do ensino católico a Cuba
JOÃO BATISTA NATALI
enviado especial a Havana
Além de novamente abordar o
aborto e o divórcio, temas recorrentes em
suas peregrinações, João Paulo
2º criticou ontem o governo cubano por não
permitir que as crianças possam
ter como opção o ensino religioso.
"Os pais deveriam escolher para
seus filhos o método pedagógico, o
conteúdo ético e cívico e a inspiração religiosa que os qualificaria
para o recebimento de uma educação integral", disse ele.
A menção ao ensino religioso
provocou aplausos de uma multidão de 80 mil a 120 mil pessoas que
compareceu ontem de manhã a
sua primeira missa, em Santa Clara -276 km a sudeste de Havana- que o papa oficiou em Cuba.
A agência "Reuters" diz que havia pelo menos 50 mil pessoas.
Foi a primeira vez, em 39 anos,
que tantos cubanos se reuniram
em local público sem motivação
claramente política e sem terem sido convocados para um ato do governo.
A missa, com 2 horas e 40 minutos e transmissão pela TV, ocorreu
no campo esportivo do Instituto
Superior de Cultura Física de Santa
Clara, espaço normalmente reservado ao beisebol, o esporte nacional cubano.
A cerimônia, com um coral misto de 300 vozes, teve a solenidade
musical do catolicismo caribenho.
Em lugar dos clássicos europeus,
os hinos e cânticos tinham a formatação discreta de salsa, bolero e
mambo.
João Paulo 2º, demonstrando
melhores condições físicas que em
suas aparições em outubro último
no Rio, dicção mais firme e maior
facilidade de locomoção, foi sutil e
ao mesmo tempo inequívoco em
suas críticas ao regime local.
"Há sistemas culturais que, sob
a aparência de liberdade e progresso, promovem e defendem uma
mentalidade antinatalista", afirmou. Diante dela, a maternidade
"passa a ser vista como uma limitação da liberdade da mulher" e as
crianças, em lugar de concebidas
como "um grande presente de
Deus", passam a ser "um problema contra o qual é preciso se proteger".
E mais adiante: "Este país criou
numerosas dificuldades para a estabilidade da família". Citou "a
escassez material, quando os salários permitem um poder de compra muito limitado, a insatisfação
por motivos ideológicos ou a atração exercida pela sociedade de
consumo".
Numa referência velada ao governo local, João Paulo 2º exortou
os fiéis a "não terem medo".
"Nenhuma ideologia pode substituir o infinito poder e bondade de
Cristo."
O papa rezará hoje missa em Camagüey, a 533 km a sudoeste de
Havana, com homilia que terá por
tema a juventude. Amanhã estará
em Santiago de Cuba, a 860 km da
capital, devendo se pronunciar sobre as relações dos cristãos com
suas pátrias. Sua última missa, no
domingo, será em Havana.
O local da cerimônia -um descampado perto dos limites da cidade- lembrava em muito pouco o
ato litúrgico semelhante que o papa oficiou no aterro do Flamengo,
no Rio. Era como se, em Cuba, o
entusiasmo fosse mais comedido.
Ao chegar de papamóvel -ele
viajou à cidade de avião e voltou a
Havana após a missa, para encontro às 18h locais (21h em Brasília)
com Fidel Castro-, João Paulo 2º
foi longamente aplaudido, mas
sem nenhum delírio.
Bem mais soltos eram os pequenos grupos de peregrinos estrangeiros -mexicanos, colombianos, nicaraguenses- que não pararam de agitar suas bandeiras e a
gritar com entusiasmo.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|