|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DE CARRASCO A VÍTIMA
Ex-presidente liderou protestos de rua
Mahuad ajudou a derrubar antecessor
da ""Reuters"
Um dos líderes das manifestações que ajudaram a derrubar o então presidente Abdallá
Bucaram, Jamil Mahuad acabou se vendo em situação semelhante a seu adversário depois de 17 meses no poder.
O pedido de renúncia feito
pelo alto comando dos militares na sexta-feira veio depois de
meses de caos político e econômico num país andino pobre,
de 12,2 milhões de habitantes,
que enfrenta uma de suas piores crises econômicas das últimas sete décadas.
A adversidade tem sido uma
companheira frequente de Jamil Mahuad nos últimos três
anos, começando com uma hemorragia cerebral, há três anos,
que o deixou temporariamente
incapaz de se movimentar em
97.
O advogado formado em
Harvard, uma das mais prestigiosas universidades dos Estados Unidos, disse que o problema de saúde foi provocado pela
falta de repouso, algo que ele
certamente não teve muito desde que venceu, por pequena
margem, as eleições em 98.
Economia
A economia equatoriana sofreu uma contração de 7,5% no
ano passado, a inflação chegou
a 61% e o sucre, a moeda local,
perdeu 67% do seu valor em relação ao dólar.
As tentativas de Mahuad de
aplicar medidas de austeridade
na economia provocaram protestos, às vezes violentos. A última proposta para salvar sua
Presidência foi anunciar a dolarização, um plano recebido
com manifestações pela oposição e, em especial, pelo movimento indígena.
Mahuad, 50, um divorciado
que foi prefeito de Quito, é o 41º
presidente do Equador, onde a
democracia tem sofrido com a
instabilidade dos últimos 20
anos.
O atual mandatário sucedeu
o presidente-interino Fabian
Alarcón, eleito em 97 pelo Congresso depois que Abdallá Bucaram, conhecido como ""El
Loco", foi afastado do poder
pelos deputados por ""insanidade mental".
Carisma
Mahuad usou o ""carisma de
um cavalheiro" para subir rapidamente no setor público,
depois de atuar no movimento
estudantil.
Ao concorrer à Presidência
pela segunda vez, em 98, recebeu o apoio de empresários
que buscavam estabilidade e
ignoraram um caso extraconjugal assumido publicamente
por Mahuad e que lhe deu um
de seus dois filhos.
Mahuad foi eleito prefeito de
Quito duas vezes e conseguiu
uma sólida reputação de um
bom administrador, de ""um
trabalhador dedicado que abre
estradas".
No poder, conseguiu logo
um sucesso ao ajudar a resolver
a disputa territorial entre
Equador e Peru, que havia levado os dois vizinhos ao confronto militar em 1995.
Mas essa conquista diplomática, que teve ajuda importante
do Brasil (mediador na disputa), foi rapidamente deixada
para trás, devido aos problemas econômicos provocados
pelo fenômeno climático ""El
Niño" e as enchentes.
O país também teve de enfrentar queda dos preços internacionais de petróleo e da banana, dois dos principais produtos de exportação do Equador, e sentiu os efeitos da crise
que atingiu a partir de 97 as
economias asiáticas, importantes parceiros comerciais.
Moratória
Em seu mandato, Jamil Mahuad também levou o Equador
ao livro dos recordes ao transformar o país no primeiro a
não cumprir suas obrigações
com os ""bradies". O governo
equatoriano decretou uma
moratória parcial daqueles títulos da dívida renegociada,
criados nos anos 80 com o
apoio do governo dos EUA.
Atualmente, o Equador tem
uma moratória de sua dívida
externa, que atinge US$ 13,6 bilhões, quantia quase equivalente ao Produto Interno Bruto
(PIB, total de riquezas produzidas pelo país) anual. Cerca de
60% da população vive em
""condições de pobreza".
Como se o caos econômico e
social não fossem suficientes, a
administração de Jamil Mahuad teve de enfrentar ainda a
ameaça da atividade dos vulcões Tungurahua e Guagua Pichincha. Este fica próximo à
capital Quito, que tem 1,2 milhão de habitantes.
Texto Anterior: Dolarização fracassa como golpe político Próximo Texto: Mahuad não renuncia, mas apóia posse de vice Índice
|