São Paulo, Domingo, 23 de Janeiro de 2000


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DE CARRASCO A VÍTIMA
Ex-presidente liderou protestos de rua
Mahuad ajudou a derrubar antecessor

da ""Reuters"

Um dos líderes das manifestações que ajudaram a derrubar o então presidente Abdallá Bucaram, Jamil Mahuad acabou se vendo em situação semelhante a seu adversário depois de 17 meses no poder.
O pedido de renúncia feito pelo alto comando dos militares na sexta-feira veio depois de meses de caos político e econômico num país andino pobre, de 12,2 milhões de habitantes, que enfrenta uma de suas piores crises econômicas das últimas sete décadas.
A adversidade tem sido uma companheira frequente de Jamil Mahuad nos últimos três anos, começando com uma hemorragia cerebral, há três anos, que o deixou temporariamente incapaz de se movimentar em 97.
O advogado formado em Harvard, uma das mais prestigiosas universidades dos Estados Unidos, disse que o problema de saúde foi provocado pela falta de repouso, algo que ele certamente não teve muito desde que venceu, por pequena margem, as eleições em 98.

Economia
A economia equatoriana sofreu uma contração de 7,5% no ano passado, a inflação chegou a 61% e o sucre, a moeda local, perdeu 67% do seu valor em relação ao dólar.
As tentativas de Mahuad de aplicar medidas de austeridade na economia provocaram protestos, às vezes violentos. A última proposta para salvar sua Presidência foi anunciar a dolarização, um plano recebido com manifestações pela oposição e, em especial, pelo movimento indígena.
Mahuad, 50, um divorciado que foi prefeito de Quito, é o 41º presidente do Equador, onde a democracia tem sofrido com a instabilidade dos últimos 20 anos.
O atual mandatário sucedeu o presidente-interino Fabian Alarcón, eleito em 97 pelo Congresso depois que Abdallá Bucaram, conhecido como ""El Loco", foi afastado do poder pelos deputados por ""insanidade mental".

Carisma
Mahuad usou o ""carisma de um cavalheiro" para subir rapidamente no setor público, depois de atuar no movimento estudantil.
Ao concorrer à Presidência pela segunda vez, em 98, recebeu o apoio de empresários que buscavam estabilidade e ignoraram um caso extraconjugal assumido publicamente por Mahuad e que lhe deu um de seus dois filhos.
Mahuad foi eleito prefeito de Quito duas vezes e conseguiu uma sólida reputação de um bom administrador, de ""um trabalhador dedicado que abre estradas".
No poder, conseguiu logo um sucesso ao ajudar a resolver a disputa territorial entre Equador e Peru, que havia levado os dois vizinhos ao confronto militar em 1995.
Mas essa conquista diplomática, que teve ajuda importante do Brasil (mediador na disputa), foi rapidamente deixada para trás, devido aos problemas econômicos provocados pelo fenômeno climático ""El Niño" e as enchentes.
O país também teve de enfrentar queda dos preços internacionais de petróleo e da banana, dois dos principais produtos de exportação do Equador, e sentiu os efeitos da crise que atingiu a partir de 97 as economias asiáticas, importantes parceiros comerciais.

Moratória
Em seu mandato, Jamil Mahuad também levou o Equador ao livro dos recordes ao transformar o país no primeiro a não cumprir suas obrigações com os ""bradies". O governo equatoriano decretou uma moratória parcial daqueles títulos da dívida renegociada, criados nos anos 80 com o apoio do governo dos EUA.
Atualmente, o Equador tem uma moratória de sua dívida externa, que atinge US$ 13,6 bilhões, quantia quase equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB, total de riquezas produzidas pelo país) anual. Cerca de 60% da população vive em ""condições de pobreza".
Como se o caos econômico e social não fossem suficientes, a administração de Jamil Mahuad teve de enfrentar ainda a ameaça da atividade dos vulcões Tungurahua e Guagua Pichincha. Este fica próximo à capital Quito, que tem 1,2 milhão de habitantes.


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