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NOVA IMAGEM
Gore recorre a anedotas e a apertos de mão
NICHOLAS D. KRISTOF
do "The New York Times", em Sioux City, Iowa
Os habitantes do Iowa que
comparecem aos comícios para
ver o vice-presidente Al Gore frequentemente se surpreendem
com o candidato que encontram.
Em lugar do "grande soporífero" que esperam encontrar, do
homem tão inexpressivo quanto
um objeto inanimado e tão capaz
quanto isso de fazer um discurso
sedutor, os eleitores muitas vezes
se assustam ao perceber que Gore
os inspira e seduz com seus discursos improvisados, chegando a
contar piadas engraçadas.
A observação mais frequentemente ouvida dos habitantes do
Iowa que saíram de casa para ouvir seus discursos, mesmo entre
aqueles que não pretendem votar
em Gore, é que ele é muito mais
animado, carismático e divertido
do que imaginavam.
"Na TV, a impressão que ele
passa é de uma pessoa fria, mas
ele é muito melhor do que isso",
disse a conselheira aposentada de
alcoólatras Lorene Jambura, de
Davenport, Iowa, depois de assistir a um discurso de Gore.
Mesmo que o outro pré-candidato democrata, o ex-senador Bill
Bradley, fracassar em sua busca
de obter a indicação para a candidatura do partido, terá realizado
algo que muitas pessoas teriam
julgado impossível.
Os assessores mais próximos
do vice-presidente reconhecem
que foi a pressão de Bradley que,
nos últimos meses, levou Gore a
dar ênfase a um estilo informal,
simpático e às vezes até engajado.
O estilo de Gore era visto como
um dos maiores pontos fracos de
sua candidatura. Falta de experiência ou conhecimento não são
falhas que lhe possam ser atribuídas, mas sua dificuldade em inspirar os eleitores ou incendiar
uma platéia lançava dúvidas sobre sua capacidade de se fazer eleger e suscitava temores de que,
mesmo que fosse eleito, sua Presidência seria fria.
Mesmo hoje, especialmente
quando fala em temas complexos
ou intelectuais, Gore pode parecer distante, assumindo ar de
professor. Seus gestos às vezes
dão a impressão de ser guiados
por um assessor, por meio de um
controle remoto. Se Clinton é perito em sentir a dor das outras
pessoas, Gore, quando ocasiões
desse tipo se apresentam, às vezes
age como um robô.
No entanto, quando está totalmente "carregado", Gore é capaz
de manter suas platéias atentas a
cada palavra, rindo com as piadas
e fascinadas com as histórias.
"Estou tão feliz de estar em
Muscatine novamente", disse
Gore com tanto sentimento que
quase se poderia imaginar que estivesse falando a sério. Caminhando pelo palco numa camisa
marrom e acenando para algumas pessoas na platéia que reconhecia, o vice-presidente falou:
"Vou começar por lhes contar algumas coisas de minha vida".
A seguir, traçou uma breve biografia própria. Descreveu sua vida com seus pais de meios modestos, falou de seu passado como veterano do Vietnã e jornalista, passou por cima de sua carreira política. Concluiu falando do
orgulho que sente em ser avô.
Gore frequentemente pede aos
avôs e avós na platéia que levantem as mãos e depois pergunta se
alguém tem até 15 ou mesmo 20
netos, elevando o número aos
poucos até identificar e parabenizar a pessoa que tiver mais netos.
Embora repita a pergunta várias vezes por dia, ele sempre reage com aparente espanto ao ouvir
que alguém tem até 27 ou 30 netos, e, mesmo que as platéias saibam que estão assistindo a uma
representação, elas a adoram.
Em seus discursos, muitas vezes pede que os participantes levantem as mãos para indicar uma
coisa ou outra, e, quando responde a perguntas, percorre o recinto
com um microfone a mais, pedindo que as pessoas não apenas
formulem perguntas, mas também contem suas histórias.
A ênfase sobre anedotas, netos
e apertos de mão reduz o tempo
disponível para a discussão de
questões polêmicas, coisa que a
campanha prefere evitar de qualquer maneira, já que a vantagem
de Gore em Iowa já é confortável.
Entrevistas feitas com mais de
50 eleitores do Estado que ouviram os discursos do vice nos últimos dias sugerem que, pelo menos lá, a estratégia funciona.
"Fui ouvir o vice-presidente
três vezes nos últimos meses",
disse Gertrude MacQueen, cabo
eleitoral democrata em Iowa City
há anos, "e a cada vez ele está melhor, mais tranquilo."
Um fator que pode atuar a favor
de Gore hoje é o da comparação.
No passado ele foi comparado a
Clinton, inigualável em sua capacidade de criar empatia e relacionar-se com platéias. Hoje em dia,
porém, Gore está sendo comparado, cada vez mais, a Bradley,
que admite ter pontos fracos como orador público.
"Gore é um orador melhor do
que Bradley", comentou a psicóloga escolar Christine Carpenter,
que ouviu ambos os pré-candidatos e ainda não decidiu em quem
votar. "Ele é mais divertido, ele
contou mais piadas, foi mais animado. Seu discurso foi melhor."
Tradução de Clara Allain
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