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Na ONU, EUA enfrentam resistência entre aliados
JULIA PRESTON
DO "THE NEW YORK TIMES"
O Paquistão e a Bulgária têm
muito em comum hoje em dia.
São aliados recentes dos EUA,
membros do Conselho de Segurança da ONU (CS) e hesitam em
autorizar uma guerra imediata
contra o Iraque.
"Se os inspetores estão dizendo
que querem mais tempo, acho
que esse tempo deve ser dado",
disse o chanceler paquistanês,
Khurshid Mahmud Kasuri.
Seu colega búlgaro, Solomon
Passy, afirmou: "Vamos investir
todos os nossos esforços para evitar a solução militar".
Numa reunião de chanceleres
do CS realizada nesta semana na
sede da ONU, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, enfrentou resistência considerável
de três outros membros permanentes do CS -China, Rússia e,
especialmente, França, todos detentores do poder de veto, como
EUA e Reino Unido- à hipótese
de ação militar contra o Iraque
nas próximas semanas. Os chefes
dos inspetores entregarão seu relatório ao CS na segunda, e representantes americanos já disseram
que talvez façam uso da ocasião
para apresentar seus argumentos
em favor da guerra.
Entretanto, em reuniões reservadas mantidas com 12 outros
chanceleres do CS, Powell também encontrou muita resistência
à proposta de guerra por parte
dos dez membros não-permanentes do órgão da ONU, disseram diplomatas. Muitos argumentaram que os inspetores estão
apenas começando a trabalhar
para pressionar o Iraque a revelar
suas armas ilegais. Segundo os diplomatas, esses países disseram
que, sem um argumento contundente que comprove que Bagdá
está desafiando as orientações do
CS, eles teriam dificuldade, neste
momento, em convencer os setores céticos de seus países de que a
guerra se justifica. ""Ainda precisamos trabalhar com a opinião
pública", disse Passy.
De modo geral, os dez membros
não-permanentes exercem influência muito menor do que os
permanentes. Mas, durante as
prolongadas negociações em torno da resolução 1.441, que determinou a realização das inspeções
atuais, os EUA fortaleceram sua
posição contra a oposição por
parte da França, buscando apoio
entre os membros não-permanentes. Para que possam ser adotadas, as resoluções do Conselho
precisam de nove votos a favor e
nenhum veto.
Os membros não-permanentes
ganharam destaque neste ano
com a entrada no CS da Alemanha, que é economicamente mais
poderosa do que os membros europeus permanentes (França e
Reino Unido). O ministro do Exterior alemão, Joschka Fischer,
afirmou que o Iraque precisa obedecer as resoluções do CS, mas
que uma guerra antes do tempo
pode desencadear uma nova onda de terrorismo.
Kasuri disse que é crucial para o
Paquistão, que entrou para o CS
em janeiro, dispor de argumentos
incontestáveis contra o Iraque,
para evitar uma reação popular
antiamericana desestabilizadora.
Seu país, afirmou, não nutre nenhuma simpatia pelo ditador
Saddam Hussein e está interessado em manter laços estreitos com
a administração Bush. Mas se vê
numa situação difícil em função
das tensões geradas devido ao
apoio que o governo deu à guerra
americana contra o Taleban.
A Bulgária integra o CS há um
ano e já comprovou repetidas vezes sua lealdade aos EUA, votando juntamente com Washington.
O país foi um dos primeiros e
mais decididos partidários dos
EUA nas negociações envolvendo
a resolução 1.441. Foi convidado a
tornar-se membro da Otan em
novembro, com o apoio inequívoco dos EUA, e Passy deixou claro que Sofia vai tomar o partido
dos EUA se este forçar uma decisão sobre a guerra em janeiro.
De acordo com Passy, Saddam
não pagou à Bulgária os US$ 2 bilhões que deve ao país por obras
de engenharia e contratos de
equipamentos feitos nos anos
1980, e o Iraque é o maior devedor
estrangeiro da Bulgária. ""Saddam
jamais vai saldar essa dívida", disse Passy. ""Poderemos receber esse dinheiro de volta algum dia,
talvez, se houver um governo diferente no Iraque."
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