UOL


São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Na ONU, EUA enfrentam resistência entre aliados

JULIA PRESTON
DO "THE NEW YORK TIMES"

O Paquistão e a Bulgária têm muito em comum hoje em dia. São aliados recentes dos EUA, membros do Conselho de Segurança da ONU (CS) e hesitam em autorizar uma guerra imediata contra o Iraque.
"Se os inspetores estão dizendo que querem mais tempo, acho que esse tempo deve ser dado", disse o chanceler paquistanês, Khurshid Mahmud Kasuri.
Seu colega búlgaro, Solomon Passy, afirmou: "Vamos investir todos os nossos esforços para evitar a solução militar".
Numa reunião de chanceleres do CS realizada nesta semana na sede da ONU, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, enfrentou resistência considerável de três outros membros permanentes do CS -China, Rússia e, especialmente, França, todos detentores do poder de veto, como EUA e Reino Unido- à hipótese de ação militar contra o Iraque nas próximas semanas. Os chefes dos inspetores entregarão seu relatório ao CS na segunda, e representantes americanos já disseram que talvez façam uso da ocasião para apresentar seus argumentos em favor da guerra.
Entretanto, em reuniões reservadas mantidas com 12 outros chanceleres do CS, Powell também encontrou muita resistência à proposta de guerra por parte dos dez membros não-permanentes do órgão da ONU, disseram diplomatas. Muitos argumentaram que os inspetores estão apenas começando a trabalhar para pressionar o Iraque a revelar suas armas ilegais. Segundo os diplomatas, esses países disseram que, sem um argumento contundente que comprove que Bagdá está desafiando as orientações do CS, eles teriam dificuldade, neste momento, em convencer os setores céticos de seus países de que a guerra se justifica. ""Ainda precisamos trabalhar com a opinião pública", disse Passy.
De modo geral, os dez membros não-permanentes exercem influência muito menor do que os permanentes. Mas, durante as prolongadas negociações em torno da resolução 1.441, que determinou a realização das inspeções atuais, os EUA fortaleceram sua posição contra a oposição por parte da França, buscando apoio entre os membros não-permanentes. Para que possam ser adotadas, as resoluções do Conselho precisam de nove votos a favor e nenhum veto.
Os membros não-permanentes ganharam destaque neste ano com a entrada no CS da Alemanha, que é economicamente mais poderosa do que os membros europeus permanentes (França e Reino Unido). O ministro do Exterior alemão, Joschka Fischer, afirmou que o Iraque precisa obedecer as resoluções do CS, mas que uma guerra antes do tempo pode desencadear uma nova onda de terrorismo.
Kasuri disse que é crucial para o Paquistão, que entrou para o CS em janeiro, dispor de argumentos incontestáveis contra o Iraque, para evitar uma reação popular antiamericana desestabilizadora.
Seu país, afirmou, não nutre nenhuma simpatia pelo ditador Saddam Hussein e está interessado em manter laços estreitos com a administração Bush. Mas se vê numa situação difícil em função das tensões geradas devido ao apoio que o governo deu à guerra americana contra o Taleban.
A Bulgária integra o CS há um ano e já comprovou repetidas vezes sua lealdade aos EUA, votando juntamente com Washington. O país foi um dos primeiros e mais decididos partidários dos EUA nas negociações envolvendo a resolução 1.441. Foi convidado a tornar-se membro da Otan em novembro, com o apoio inequívoco dos EUA, e Passy deixou claro que Sofia vai tomar o partido dos EUA se este forçar uma decisão sobre a guerra em janeiro.
De acordo com Passy, Saddam não pagou à Bulgária os US$ 2 bilhões que deve ao país por obras de engenharia e contratos de equipamentos feitos nos anos 1980, e o Iraque é o maior devedor estrangeiro da Bulgária. ""Saddam jamais vai saldar essa dívida", disse Passy. ""Poderemos receber esse dinheiro de volta algum dia, talvez, se houver um governo diferente no Iraque."


Texto Anterior: Iraque: França e Alemanha se unem contra guerra
Próximo Texto: Multimídia - The Washington Post: Bush tem razão ao apressar a guerra
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.