São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2004

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Nova liderança pode ser ainda mais radical

DA REDAÇÃO

A morte de Ahmed Yassin abre um vazio de poder dentro do Hamas. Yossi Kuperwasser, chefe do departamento de pesquisa da inteligência militar israelense, disse ao jornal "Haaretz" que a chefia do grupo poderá ficar com Abdel Aziz Rantissi ou com um colegiado do qual ele também faça parte.
Rantissi, 55, integra um núcleo intransigente da organização, que também traz Mahmmoud Zahar, 58, Ismail Hanieh, 53, e Ismail Shanab, 39, todos médicos ou pós-graduados e defensores da destruição de Israel.
Analistas consideravam Yassin, que exercia respeitada autoridade espiritual entre os palestinos, o único capaz de convencer os terroristas do Hamas a depor armas no caso de um hoje hipotético acordo de paz na região.
Depois de atentado de agosto de 2003, em Jerusalém, a União Européia, a exemplo do que haviam feito os EUA, classificou o Hamas como terrorista, qualificativo até então reservado apenas ao seu braço armado.
Dezenas de contas bancárias foram bloqueadas, e nove entidades filantrópicas ligadas à organização foram fechadas.
O Hamas, acrônimo em árabe para Movimento da Resistência Islâmica, surgiu em Gaza, em 1987, logo após o início da primeira Intifada, e tornou-se a segunda maior organização palestina, depois do Fatah, de Iasser Arafat, com o qual entrou em atrito durante as negociações dos acordos de Oslo, de 1993. Suas teses radicais tornaram-se populares em razão do malogro do processo de paz e com a sensação de que a Autoridade Nacional Palestina estava cada vez mais minada pela corrupção e pela ineficiência.
O grupo é mais que uma estrutura terrorista, com uma quantidade desconhecida de militantes e responsável por atentados que já mataram centenas de civis israelenses. É também uma rede filantrópica e assistencial que cumpre tarefas inexistentes ou insuficientes na Cisjordânia e em Gaza.
Há o caso de Oum Khaled, citado ontem pelo jornal francês "Le Monde", a quem o Hamas forneceu uma mesada e livros para seu filho, que estava prestando vestibular. Ou então de Adib Iussef, que mora com a mulher e os filhos no bairro de Nasr, em Gaza.
Ele recebia uma espécie de seguro-desemprego com remessas periódicas de R$ 300. O dinheiro vinha de um banco com sede no Qatar. "O Hamas vinha nos visitar, seus homens perguntavam o que estávamos precisando, mandavam para minha família roupas e alimentos", diz ele.
Por manter de forma explícita o objetivo de destruir Israel, o Hamas se expôs a represálias incessantes. Recentemente, com o aumento dos sinais de caos e desgoverno em Gaza, o grupo era visto como força maior que a Autoridade Nacional Palestina, de Arafat, com quem travava eventuais confrontos.
O Hamas não chegou a disputar as eleições para o Parlamento palestino, em protesto contra os acordos de Oslo.


Com agências internacionais


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