São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 2002

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Extrema direita cresce na Europa

DA REDAÇÃO

A chegada do líder francês de extrema direita Jean-Marie Le Pen ao segundo turno reforça uma tendência que já vinha se espalhando na Europa ocidental.
Explorando temores com relação à criminalidade, à imigração e à perda da identidade nacional com a União Européia, partidos de extrema direita já fazem parte do governo de países importantes. É o caso, por exemplo, de Itália, Áustria, Dinamarca e Noruega (veja quadro nesta página). Outras duas nações com eleições este ano, Alemanha e Holanda, podem ser as próximas da lista.
"A direita e a extrema direita têm claramente conseguido explorar questões para as quais a esquerda não tem resposta -migração e crime", disse Heather Grabbe, do Centro para Reforma Européia de Londres.
O efeito dos atentados de 11 de setembro é outro fator usado por analistas para explicar a guinada à direita. A ameaça terrorista legitima o discurso dos que defendem controles contra a imigração, principalmente de muçulmanos.
Embora preocupante para a esquerda e a social democracia, vale destacar que, até agora, os partidos de extrema direita não chegaram ao poder, apenas ajudaram a sustentar a direita liberal.
O caso clássico foi o austríaco. Em 1999, o xenófobo Partido da Liberdade, de Jörg Haider, obteve quase 30% dos votos. Credenciou-se como principal parceiro na coalizão liderada pelo premiê de direita Wolfgang Schuessel. Pela primeira vez desde a Segunda Guerra um país europeu teve a extrema direita no governo.
A União Européia (UE) anunciou sanções contra a Áustria, tentando isolar um de seus membros que caminhava numa direção indesejada, mas depois suspendeu o boicote. A França, surpreendida pela chegada de Le Pen ao segundo turno, era um dos países que mais pressionavam pelo isolamento da Áustria.
Haider disse que o sucesso de Le Pen se deveu a um voto de não confiança aos tradicionais políticos franceses e demonstra que as atitudes em relação à imigração estão mudando.
"Qualquer pessoa que dê declarações contra a excessiva e descontrolada política de imigração, ou contra os abusos de leis que concedem asilo, dentro de um cenário de centro-direita, imediatamente é chamado de extremista", afirmou Haider.
"Mas, conforme o tempo passa, os cidadão não estão se importando com essa denominação."
O líder ultranacionalista russo Vladimir Zhirinovski disse à agência de notícias russa Interfax que o avanço de Le Pen é uma prova de que muitos países estão rumando para a direita.
"As pessoas estão cansadas dessa democracia frouxa, que permite o crescimento da criminalidade e da imigração em larga escala", disse Zhirinovski. O ultranacionalista enviou um telegrama de felicitação a Le Pen por sua ida ao segundo turno.


Com agências internacionais

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