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ANÁLISE
"Terceira Via" perde cinco e parece "via em extinção"
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Há apenas 22 meses, 15 governantes considerados de centro-esquerda, reuniram-se em Berlim, para a mais importante cúpula, até agora, do movimento que
começou chamando-se "Terceira
Via", passou a designar-se como
"Governança Progressista", mas,
agora, bem que poderia se chamar "via em processo de extinção".
Afinal, dos 15 dirigentes que assinaram o texto final de Berlim,
quatro foram apeados do poder
pelo voto, um (o argentino Fernando de la Rúa por um verdadeiro plebiscito, na forma de "panelaço"), e um sexto, o holandês
Wim Kok, renunciou sucessivamente à liderança do seu partido
(Partido do Trabalho) e ao cargo
de primeiro-ministro.
Detalhe: dos 15 de Berlim, só
Tony Blair ganhou a eleição a que
se submeteu de lá para cá. Os demais talvez só estejam no poder
porque não foram ainda submetidos à prova da urna.
O alemão Gerhard Schröder,
por exemplo, está atrás, nas pesquisas, do ultraconservador Edmund Stoiber, da versão bávara
da democracia cristã, exatamente
o seu ramo mais conservador.
Foram ficando pelo caminho,
sucessivamente, Bill Clinton, Fernando de la Rúa, os italianos da
coalizão Oliveira (representada
em Berlim pelo socialista Giuliano Amato), o português António
Guterres e, agora, o francês Lionel
Jospin.
Pior, para os que acreditam na
"Terceira Via": as derrotas mais
recentes são a continuidade de
um processo de troca da esquerda
pela direita, no comando dos governos europeus, como lembrou
à Folha Nicholas Whyte, pesquisador do Centro para Estudo de
Políticas Européias (Bruxelas):
"O pico dos partidos da social
democracia na União Européia já
passou. Do fim de 1998 ao princípio de 2000, todos os membros da
União Européia, exceto Irlanda e
Espanha, tinham social-democratas no governo. Desde então, governos de direita chegaram ao poder na Áustria, na Itália e na Dinamarca", lembra Whyte.
É claro que as razões pelas quais
a Europa está substituindo os partidos da social-democracia por
governos bem mais à direita são
muitas e podem variar de país para país.
Mas Whyte tem uma explicação
que é rigorosamente igual a muitas opiniões que desfilaram na
noite de anteontem nas intermináveis mesas-redondas das TVs
francesas sobre o fracasso de Jospin: "Os inventores da Terceira
Via reinventaram as políticas da
esquerda a tal ponto que é mais
difícil dizer em que se diferenciam
da direita".
No caso específico da França, a
diferenciação se tornou ainda
mais complicada porque Jospin
conseguia ser, ao mesmo tempo,
o primeiro-ministro que mandava a mais numerosa delegação ao
Fórum Social Mundial de Porto
Alegre e o que fazia o maior número de privatizações na história
da França.
É possível conseguir votos com
uma ou outra atitude, mas com
ambas simultaneamente é mais
fácil desconcertar o eleitorado de
esquerda sem conquistar o da direita, que, como é óbvio, prefere
os seus próprios representantes
tradicionais.
Agora, as atenções da Europa
vão estar centradas no turno final,
embora tendam a zero as chances
de uma nova surpresa, como seria
a vitória do fascistóide Le Pen sobre Chirac.
Na própria noite de domingo,
antes de que Jospin aceitasse a
derrota, um dos quadros mais lúcidos do socialismo francês, o ex-ministro de Finanças Dominique
Strauss-Khan, porta-voz da campanha de Jospin, já dizia que seu
voto, tapando o nariz, iria para
Chirac. Mais: dava o primeiro grito de uma campanha para que o
voto da extrema direita seja o
mais frágil possível, "pela honra
da França".
Se a honra da França ficar limitada à derrota de Le Pen, é razoável supor que ela será salva. Mas a
honra, ao menos eleitoral, da Terceira Via passa a depender de
Schröder vencer em setembro.
Se perder, a direita estará chegando a um de seus momentos de
auge. Menos, curiosamente, no
Brasil, país em que a derrota de
Fernando Henrique Cardoso, seu
representante na Terceira Via seria, ao que tudo indica, a vitória
exatamente da esquerda.
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