|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para Alencastro, Le Pen pode crescer no segundo turno
MARIA BRANT
DA REDAÇÃO
Luiz Felipe de Alencastro, professor de história do Brasil na
Universidade de Paris 4 (Sorbonne), atribui o triunfo de Jean-Marie Le Pen no primeiro turno das eleições presidenciais francesas
ao fato de que ele "aglutinou uma
insatisfação difusa na Europa
com o rumo dos países europeus
para uma federação européia".
Alencastro, autor de "O Trato
dos Viventes" (Companhia das
Letras, 2000), adverte que a "dinâmica do segundo turno" ainda
permite o crescimento de Le Pen.
Leia, a seguir, a entrevista que
ele deu à Folha, em São Paulo.
Folha - O que significa a vitória de
Le Pen?
Luiz Felipe de Alencastro - Há
dois registros. O primeiro é a carreira pessoal de Le Pen. Ele tem 73
anos, 40 de carreira política como
deputado de extrema direita
-um movimento que existe na
sociedade francesa, que ele encarna e encarnou desde sempre.
Outra coisa é ele ter conseguido
chegar ao segundo turno eleitoral.
Ele aglutinou uma insatisfação difusa na Europa, não só na França,
com o rumo dos países europeus
para uma federação européia. Essa federalização, a UE (União Européia), o euro, criam uma série
de medos e ressentimentos em
certas camadas políticas. Isso cria
um descompasso entre os centros
decisórios políticos nacionais, regionais e municipais e os centros
de decisões econômicas. E Le Pen
capitalizou isso, sem dúvida.
Folha - O que vai acontecer com a
esquerda?
Alencastro - Antes eu queria dizer que, por enquanto, Le Pen não
ganhou nada, só um lugar no segundo turno. Está excluído que
ele ganhe a eleição presidencial, e
não há um bloco de extrema direita na França. Então, ele precisa
desesperadamente, na eleição legislativa, transformar os votos
que teve e os que conseguir obter
no segundo turno em deputados,
em um bloco parlamentar, o que é
uma operação muito mais complicada. Se houver uma reação da
esquerda, e é isso que se espera,
em junho, esse surto da extrema
direita pode morrer na praia.
Folha - O fato de a direita e a esquerda estarem se aproximando
cada vez mais do centro favorece a
ascensão dos extremismos?
Alencastro - Isso é ainda uma
consequência do avanço da UE
no plano econômico: há um avanço institucional, o Banco Central
Europeu, uma moeda única. Mas
o eleitor ainda não dispõe de instituições políticas que estejam conectadas com seus interesses no
nível europeu. O Parlamento Europeu não tem ainda mecanismos
para captar insatisfações ou reivindicações dos europeus.
Folha - O que o sr. prevê para o segundo turno?
Alencastro - Deve haver uma
mobilização grande em torno de
Chirac, não só da esquerda e da
maioria dos partidos franceses,
mas da Europa inteira, que quer
exorcizar as perspectivas de um
Le Pen antieuropeu. Vai haver
uma pressão conjunta. Mas a dinâmica do segundo turno ainda
permite o crescimento de Le Pen.
Se juntamos todos os que são contra a Europa -extrema esquerda,
extrema direita, soberanistas, o
partido dos caçadores-, dá 40%.
Parte do eleitorado de extrema esquerda pode se abster, mas, potencialmente, é antieuropéia. Le
Pen também tem um eleitorado
operário, teve uma votação importante em cidades industriais.
As eleições legislativas serão um
terceiro turno. Chirac não está
muito forte: [no segundo turno"
ele terá votos por ser menos pior
do que Le Pen. Se houver uma
reação da esquerda, pode ser que
o quadro atual, com um premiê
socialista, se reproduza.
Texto Anterior: Análise: "Terceira Via" perde cinco e parece "via em extinção" Próximo Texto: Comentário: Votação reflete desencanto com o establishment Índice
|