São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 2002

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Ruas de Paris têm manifestações contínuas contra Le Pen e fascismo

DE PARIS

Paris entrou em ebulição desde domingo à noite. Partidos de esquerda, agremiações marxistas e movimentos antiglobalização promovem reuniões e manifestações quase contínuas contra Jean-Marie Le Pen e a ameaça fascista. Mais de 100 mil saíram às ruas ontem em diversas cidades do país.
Cartazes da campanha de Le Pen amanheceram pichados. "A França não é fascista", dizia um deles no metrô. Na praça da República, uma manifestação reuniu no início da noite centenas de pessoas, sobretudo jovens. Um cartaz constatava: "Chirac, eu não queria votar em você!".
O professor de história Hébert Benoit, 24, carregava a bandeira vermelha de seu pequeno partido Alternativas e distribuía panfletos. "Votei em branco, assumo, e não me arrependo. Não me sentia representado por nenhum dos candidatos. Agora vou votar Chirac, mesmo se ele é um escroque, por causa da democracia", diz.
O partido, fundado em 1987, defende a reunião da ecologia com o socialismo de auto-gestão. "Não acho que a esquerda deva ser culpada pelo que ocorreu na França", afirma Benoit.
O barman Thierry Meignen, 39, diz: "Tenho vergonha. Todos os meus amigos estão sentindo o mesmo. Quem se absteve ou votou em outros nomes agora estão lamentando o que fizeram". Ele votou em Jospin e irá votar em Chirac. "Não gosto dele, mas vou me juntar à barreira que será criada. Meu avô lutou contra os nazistas. Devo lutar também agora."
Se pudesse voltar no tempo, a estudante Laure Gorin, 19, teria votado em Jospin. Ela votou em Olivier Besancenot, 27, candidato da Liga Comunista Revolucionária (LCR). "As pesquisas enganaram as pessoas. Elas davam como vencedores Chirac e Jospin, e todos que não tinham preferência por esses dois votaram em outro nome, pensando que certamente iriam escolher entre eles no turno seguinte. Foi o meu caso", diz.
O funcionário público Jean-Louis, 52, sempre votou à direita. Desta vez, no primeiro turno, apostou em Corinne Lepage, 50, do Cidadania, Ação, Participação para o Século 21 (CAP 21). "Chirac não me agrada como pessoa, não é muito honesto e não é um grande homem, mas terá meu voto", diz. Ele não se chocou com a vitória de Le Pen. "Ele é sempre subestimado. Para mim, o que é chocante de fato é que nunca encontrei alguém que tivesse votado nele. Ou essas pessoas não fazem parte de meu meio, ou elas escondem o seu voto."
Alain Siloret, 53, votou em Le Pen. "Teve uma época em que ele delirava, mas agora tem chances de chegar ao poder." No meio da manifestação contra Le Pen, onde ele diz que foi "se divertir", Siloret conta que está desempregado há mais de 20 anos e vive do seguro social. Ele dispara: "Chirac é um cretino político e a esquerda é usurpadora, no poder há 20 anos Com Le Pen, enfim nós, pobres, temos uma pequena esperança".



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