São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 2000


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"Governo Fujimori não dura um ano"

FRANCESC RELEA
DO "EL PAÍS", EM LIMA

O controvertido processo eleitoral peruano teve na quinta passada seu golpe de efeito mais espetacular. O candidato da oposição, Alejandro Toledo, prometeu abandonar a disputa pela Presidência se o segundo turno, previsto para o domingo, não for adiado para 18 de junho. Justifica sua decisão pelas numerosas irregularidades. Leia trechos da entrevista.

Pergunta - O sr. se vê, da forma como estão as coisas hoje, presidente do Peru?
Alejandro Toledo -
Eu serei presidente do meu país imediatamente depois de Fujimori. Não tenho nenhuma pressa.

Pergunta - Isso pode ser este ano ou dentro de cinco.
Toledo -
Cinco não. Pode não ser neste segundo turno, mas lhe asseguro que se Fujimori for eleito não dura um ano.

Pergunta - O sr. decidiu se retirar das eleições contando que os EUA o apoiariam nesse passo?
Toledo -
Nossa decisão não foi tomada pensando nos EUA, mas nas informações e nas avaliações técnicas da OEA e da procuradoria pública. Os dados são muito fortes sobre uma infra-estrutura fraudulenta que foi montada. Estão consumindo tempo desde 9 de abril para legitimar um processo que é fraudulento.
E continuam as evidências: 1,4 milhão de eleitores a mais que a população inscrita; funcionários do governo que são membros da mesa, que teoricamente deveriam ser sorteados; a comprovação de que naquelas mesas onde as forças democráticas não tinham fiscais Fujimori obteve entre 95% e 98% dos votos; ou o anúncio, há três dias, de que o escritório de recontagem de votos havia adquirido um novo sistema de informática quando teoricamente estavam trabalhando na melhora do anterior havia três semanas. Querem nos levar a participar para legitimar isso, e nunca o faremos.

Pergunta - O que acontecerá se não se fizerem essas mudanças e se se mantiver a data?
Toledo -
Bom, o presidente Fujimori poderá ir à eleição sozinho, poderá se autoproclamar vencedor para um terceiro mandato, mas posso lhe antecipar que será um presidente sem legitimidade política interna e internacional e que será uma fonte permanente de instabilidade.

Pergunta - Entre os possíveis cenários que se abrem no Peru, o sr. descarta um golpe militar?
Toledo -
Não descarto nada. Mas espero que as Forças Armadas respondam a seu dever e não abram um fosso ainda mais profundo na democracia.


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