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"Governo Fujimori não dura um ano"
FRANCESC RELEA
DO "EL PAÍS", EM LIMA
O controvertido processo eleitoral peruano teve na quinta passada seu golpe de efeito mais espetacular. O candidato da oposição, Alejandro Toledo, prometeu
abandonar a disputa pela Presidência se o segundo turno, previsto para o domingo, não for adiado
para 18 de junho. Justifica sua decisão pelas numerosas irregularidades. Leia trechos da entrevista.
Pergunta - O sr. se vê, da forma
como estão as coisas hoje, presidente do Peru?
Alejandro Toledo - Eu serei presidente do meu país imediatamente
depois de Fujimori. Não tenho
nenhuma pressa.
Pergunta - Isso pode ser este ano
ou dentro de cinco.
Toledo - Cinco não. Pode não ser
neste segundo turno, mas lhe asseguro que se Fujimori for eleito
não dura um ano.
Pergunta - O sr. decidiu se retirar
das eleições contando que os EUA o
apoiariam nesse passo?
Toledo - Nossa decisão não foi
tomada pensando nos EUA, mas
nas informações e nas avaliações
técnicas da OEA e da procuradoria pública. Os dados são muito
fortes sobre uma infra-estrutura
fraudulenta que foi montada. Estão consumindo tempo desde 9
de abril para legitimar um processo que é fraudulento.
E continuam as evidências: 1,4
milhão de eleitores a mais que a
população inscrita; funcionários
do governo que são membros da
mesa, que teoricamente deveriam
ser sorteados; a comprovação de
que naquelas mesas onde as forças democráticas não tinham fiscais Fujimori obteve entre 95% e
98% dos votos; ou o anúncio, há
três dias, de que o escritório de recontagem de votos havia adquirido um novo sistema de informática quando teoricamente estavam
trabalhando na melhora do anterior havia três semanas. Querem
nos levar a participar para legitimar isso, e nunca o faremos.
Pergunta - O que acontecerá se
não se fizerem essas mudanças e se
se mantiver a data?
Toledo - Bom, o presidente Fujimori poderá ir à eleição sozinho,
poderá se autoproclamar vencedor para um terceiro mandato,
mas posso lhe antecipar que será
um presidente sem legitimidade
política interna e internacional e
que será uma fonte permanente
de instabilidade.
Pergunta - Entre os possíveis cenários que se abrem no Peru, o sr.
descarta um golpe militar?
Toledo - Não descarto nada. Mas
espero que as Forças Armadas
respondam a seu dever e não
abram um fosso ainda mais profundo na democracia.
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