São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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MISSÃO DE PAZ

Fuzileiros navais receberão salário extra e outros incentivos; quatro navios partem de Niterói na sexta-feira

Dólar estimula tropa brasileira no Haiti

Alexandre Campbell - 21.mai.2004/Folha Imagem
Fuzileiros navais que irão para o Haiti na semana que vem em missão de paz se perfilam no Comando da Divisão Anfíbia, no Rio


SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A Marinha selecionou os 230 fuzileiros do Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais Haiti em meio a uma disputa acirrada entre os voluntários. Havia pelo menos três candidatos por vaga. Além de importante para a profissão, a participação na missão de paz no país do Caribe representará uma expressiva melhoria financeira em tempos de arrocho salarial nas Forças Armadas.
Embora os integrantes da força de paz não tenham sido oficialmente informados sobre quanto receberão pelo trabalho, o ofício interno "A Palavra Oficial do Exército", divulgado na última quinta-feira, revela que cada um deles terá, fora do Brasil, um pagamento mensal em dólar, mais remunerações extras na partida (dólar) e na chegada (real) para os que ficarem no Haiti por mais de 12 meses.
Simultaneamente, o salário mensal continuará sendo pago no Brasil, em reais, como forma de cobrir as despesas familiares.
Para um soldado que ganha cerca de R$ 600 (líquidos) mensais, o Haiti poderá representar uma melhoria importante na qualidade de vida da família. Também os cabos (R$ 800) e sargentos (R$ 2.500 a 2.800) estão ansiosos.
A Folha apurou que os integrantes da missão no Haiti contam com, no mínimo, um salário extra por mês, em dólar, mais as quantias previstas na partida e na chegada, pois a missão poderá ser prorrogada por até dois anos.
A expectativa é ainda maior porque, no Haiti, os gastos deverão ser pequenos. Todos os integrantes da força de paz terão acomodação e alimentação.
Isso sem contar a oportunidade profissional de trabalhar fora do país, em parceria com militares dos EUA, da França, do Canadá e do Chile, que já integram a missão de paz da ONU. O militar que tem no currículo períodos de trabalho no exterior costuma ser bem considerado pelos superiores e admirado pelos colegas.

Disputa
Cerca de 90% dos 800 fuzileiros da FER (Força de Emprego Rápido) da Força de Fuzileiros da Esquadra se apresentaram como voluntários à missão no Haiti. O voluntariado é a principal exigência apresentada pela ONU para a formação do contingente militar que integra uma força de paz.
Só 160 militares da FER foram selecionados. Para completar 230 fuzileiros, a Marinha relacionou profissionais de outras unidades suas no Estado do Rio.
A FER é um contingente que tem de estar pronto para qualquer missão em até 72 horas. A cada seis meses, a Marinha muda o batalhão responsável pela FER. O da vez era o 3º Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais (Batalhão Paissandu), no Rio.
Na seleção, além das avaliações médica e física, a Marinha levou em conta a vida familiar do candidato. Aquele que a análise social indicou ter problemas em casa, como parentes vitimados por doenças graves, não foi relacionado. Até as mulheres dos fuzileiros foram entrevistadas.

Precursores
A partida dos primeiros militares brasileiros para o Haiti está marcada para a próxima sexta-feira (dia 28). Do cais da ilha do Mocanguê (Niterói, cidade a 15 km do Rio), zarparão quatro navios da Marinha (Gastão Motta, Mattoso Maia, Ceará e Rademaker), levando equipamentos, veículos e 63 fuzileiros navais.
Em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira), 13 militares do Exército partirão, no mesmo dia, da Base Aérea de Canoas (RS). No Rio -primeira escala do vôo-, embarcarão mais nove profissionais do Exército e sete fuzileiros.
O avião pára, a seguir, em Brasília, onde embarcarão 20 militares do Exército especialistas em comunicações. Completa, a equipe precursora pernoita em Boa Vista (RR) e, no dia 29, chega a Porto Príncipe (capital do Haiti).
O segundo grupo de fuzileiros tem a viagem para o Haiti marcada para 31 de maio ou 1º de junho. Serão 25 militares em um avião da FAB. O último grupo, com 135 fuzileiros, deverá viajar no dia 19 de junho. Além dos fuzileiros que integrarão o Grupamento Operativo Haiti, outros 15 (nove oficiais e seis praças) trabalharão a serviço do comando da força de paz.


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