São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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"Tapamos buraco", diz comandante canadense na ilha

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

O comandante das forças militares do Canadá no Haiti, coronel Jim Davis, afirma que a ONU ainda procura países para participar da missão de estabilização no país e que os militares canadenses estenderam seu período de permanência por lá, a pedido das Nações Unidas, para "fazer a ponte, tapar o buraco" até a chegada das novas forças.
Juntamente com EUA, Chile e França, o Canadá está no país caribenho -com cerca de 500 soldados- desde março, como parte de uma missão autorizada pela ONU, que agora enviará suas forças de paz para operações militares no país.
A última crise política haitiana culminou no exílio do presidente Jean-Bertrand Aristide em 28 de fevereiro, após confrontos entre manifestantes e forças leais ao governo que deixaram mais de 80 mortos.
Aristide diz que foi derrubado por EUA e França. Essa acusação torna a operação da ONU controversa -os críticos da missão dizem que se trata de intervenção.
Leia a entrevista que Davis concedeu à Folha, por telefone, de Porto Príncipe.

 

Folha - Como está a situação no Haiti?
Jim Davis -
Quando chegamos, encontramos um ambiente bastante hostil. Começamos a fazer rondas conjuntas com a polícia local e percebemos que a estabilidade viria relativamente fácil. Encontramos gangues que, logo após a saída de Aristide, agiam com objetivos políticos. Isso acabou. Elas voltaram para sua rotina, que, infelizmente, é de roubos e seqüestros.

Folha - Como lidar com essas gangues? É tarefa para os militares ou para a polícia?
Davis -
Acho que essa pergunta deveria ser feita para o comandante da operação da ONU. Minha impressão é que o Exército veio para cá porque éramos a organização que mais rapidamente podia chegar ao Haiti.
É certo que, nas etapas seguintes, deve haver uma combinação com outros grupos da ONU. Os militares terão uma função, tanto quanto a polícia civil internacional e os esforços para melhorar a infra-estrutura, o Judiciário e a democracia.

Folha - O que mais o impressionou na chegada ao país?
Davis -
A pobreza abjeta. Há mais de 80% de desemprego. Impressiona a quantidade de gente que passa o dia sem ter absolutamente nada o que fazer.

Folha - As pessoas pedem ajuda aos soldados?
Davis -
De jeito nenhum. São pessoas com bastante altivez. É impressionante como a cidade é suja, mas as pessoas tentam estar sempre bem vestidas. São pobres, mas não querem esmola.

Folha - O Exército canadense ainda vai permanecer aí por pelo menos 60 dias. Por que decidiram isso?
Davis -
Demorou muito para passarem a resolução da ONU [sobre a estabilização], e por causa disso eles ainda estão tentando fazer que outros países se apresentem como voluntários [para participar da missão], como o Brasil fez. O Canadá recebeu um pedido da ONU para ficar mais tempo. Estamos aqui para ajudar a fazer a ponte, a tapar o buraco entre o fim da missão das forças internacionais e a chegada de novas forças.


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