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Mulheres de Bagdá eram as que mais sofriam com poder de Uday
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Além da onipresença de Saddam Hussein em forma de estátuas, imagens e murais e da falta de manutenção dos prédios principais, uma característica das ruas
de Bagdá chamava a atenção dos
180 jornalistas estrangeiros na cidade durante a Guerra do Iraque:
a total ausência de mulheres.
Não havia representantes do sexo feminino à vista, e não era culpa do fundamentalismo dos xiitas, pois estes dominavam as cidades mais ao sul do país; na capital, quem mandava eram os sunitas,
como o próprio Saddam, mais liberais em relação às mulheres.
Quem matou a charada foi um
dos guias da Folha durante a cobertura do conflito, Alah Jarboo:
"Nossas mulheres não saem às
ruas porque têm medo de Uday".
Não era exagero. Conforme a
Folha veria depois da queda do
regime, quando a população passou a falar abertamente sobre
Saddam e sua família, as iraquianas aprendiam desde cedo que
deveriam temer o primogênito
dos Hussein, morto ontem.
Uday, 39, era presidente do Comitê Olímpico (em cuja sede ordenava e assistia sessões de torturas de desafetos), chefiava a Associação de Futebol (cujos jogadores levavam surras se não rendiam bem) e dirigia o Sindicato
dos Jornalistas iraquianos (comandava o maior diário, "Babel",
e o canal de TV Jovem).
Eleito deputado em 1999, gostava da vida noturna e de carros esportivos estrangeiros -sua coleção chegava a 200 automóveis, e o
povo conta que a principal estrada do país, a Expressway 1, que liga Bagdá à capital jordaniana e foi
feita pela brasileira Mendes Júnior, teria sido construída a pedido de Uday para que ele pudesse frequentar as boates de Amã.
Nos últimos anos, depois de ser
preterido à sucessão do pai por
matar a pancadas seu assessor
mais querido e sofrer uma tentativa de assassinato que o deixou
manco e com dores terríveis, ele
foi ficando cada vez mais violento,
especialmente com as mulheres.
Ficaram famosas suas saídas de
carro pelo bairro Al Mansur à
procura de garotas bonitas, que
eram sequestradas por seus guarda-costas, levadas para um de
seus palácios e estupradas -na
maioria das vezes, um dos seguranças gravava tudo em vídeo, depois mostrado aos amigos de Uday em festinhas privadas.
Foi numa de suas academias
particulares de ginástica que marines norte-americanos encontraram dezenas de recortes de revistas com fotos das filhas gêmeas de
George W. Bush, algumas em
montagens que colocavam Jenna
e Barbara, 21, em poses eróticas.
Uday mantinha uma relação de
ódio com o irmão Qusay, 37, também morto ontem. O caçula do
primeiro casamento de Saddam
era o sucessor natural e comandava todo o aparato de segurança do
regime. Em contraste com a exuberância psicótica do irmão, era
valorizado pela discrição.
Aqui, de novo sobre as mulheres recaía o fardo da obsessão do
primogênito de Saddam por seu
irmão mais novo e mais bem-sucedido: nos últimos anos do regime, Uday desenvolveu o hábito
de mandar raptar as ex-namoradas de Qusay. Estuprava-as e as
marcava, tatuando a letra "U", de
seu nome, em suas nádegas.
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