|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMENTÁRIO
Momento é oportuno para Bush
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A eliminação de duas cartas
fundamentais no baralho dos iraquianos mais procurados pelos
EUA não poderia ter ocorrido em
um momento mais oportuno para o presidente George W. Bush.
A morte de Uday e Qusay, respectivamente os ases de copas e
de paus no baralho criado para
ajudar a identificar líderes iraquianos, deve dar novo fôlego à
campanha militar no Iraque e estancar, pelo menos momentaneamente, a queda livre na popularidade do presidente dos EUA.
Nas últimas semanas, uma série
de eventos vinha minando a confiança da opinião pública americana na capacidade de Bush de lidar com a situação no Iraque.
O principal fator de corrosão
são os ataques a soldados americanos no país, que vêm ganhando
um destaque cada vez maior na
cobertura da mídia americana.
Em algumas edições dos principais jornais do país, histórias humanas de militares voltando a andar com próteses metálicas ou em
tratamento psicológico já ocupam mais espaço do que o esforço
de reconstrução do Iraque.
Entre os nove pré-candidatos
democratas à eleição de 2004, o
Iraque também já se converteu
em uma nova bandeira de oposição. E as razões que levaram os
EUA à guerra, a suposta existência das armas de destruição em
massa de Saddam Hussein, continuam a incomodar o suficiente
para que Bush ainda precise dar
satisfações sobre o assunto.
Bush e os republicanos têm
maioria nos dois níveis do Congresso americano, onde controlam com mão-de-ferro as comissões criadas para investigar as razões que levaram os EUA à guerra. Mas o desconforto, mesmo entre os mais conservadores, vinha
crescendo paulatinamente.
A morte de Uday e Qusay tem o
duplo benefício para Bush de efetivamente indicar uma mudança
de regime no Iraque e de contribuir para refrear os ataques a tropas americanas no país.
Nos EUA, questionamentos
fundamentais sobre as razões da
guerra e o perigo real que o Iraque
representava para o mundo devem agora voltar a se diluir na expectativa otimista de outra boa
notícia: a capitulação total, via decapitação, da carta que falta, o ás
de espadas Saddam Hussein.
Texto Anterior: Mulheres de Bagdá eram as que mais sofriam com poder de Uday Próximo Texto: Iraque ocupado: Ataque mata membro da Cruz Vermelha Índice
|