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GUERRA AO TERROR
Antes céticos, serviços de segurança do continente agora dão mais crédito aos alertas norte-americanos
Al Qaeda reestruturada preocupa Europa
JEAN-PIERRE STROOBANTS
DO "LE MONDE", EM BRUXELAS
Os serviços de segurança de países europeus encarregados da
prevenção ao terrorismo abandonaram o ceticismo que demonstraram no início deste mês, quando os Estados Unidos elevaram o
nível de alerta contra um iminente ataque.
Na época o governo do presidente George W. Bush estava sob
a suspeita de manipular o noticiário para esvaziar a convenção democrata em Boston que oficializaria a candidatura de seu adversário, John Kerry.
Mas bastaram três semanas de
análises de novas informações colhidas no Paquistão e no Reino
Unido para que se constatasse algumas graves novidades, como a
descentralização da rede terrorista Al Qaeda, hoje em busca de
maior eficácia.
Dentro dela, grupos autônomos
de terroristas passam a recrutar
radicais menos suspeitos aos
olhos dos serviços de segurança.
Os preparativos aos atentados
são, portanto, mais dificilmente
identificáveis.
Essa forma mais dissimulada de
estruturação da Al Qaeda constitui tema de divergência entre os
EUA e os europeus.
Enquanto Washington acredita
que a organização funciona segundo uma rígida hierarquia que
tem o saudita Osama bin Laden
no comando, na Europa é mais
recorrente a tese de descentralização.
Um desses núcleos descentralizados reuniu-se no Paquistão, em
região que faz fronteira com o
Afeganistão. Mohammed Djounaid Babar, cidadão americano de
origem paquistanesa, preso nos
EUA, confessou ter participado
do encontro.
Recrutamento
Os europeus também descobriram que o recrutamento se dá
preferencialmente entre pessoas
com "aparência de cristãos" e de
mulheres que não tenham a aparência de árabes. Por sua vez, os
americanos suspeitam de pessoas
de origem tchetchena ou de europeus imigrados aos Estados Unidos nos anos 90.
Os britânicos, que seriam o
principal alvo de futuros atentados, também acreditam que a Al
Qaeda se estrutura de formas inéditas.
A prisão de Abou Issa Hindi, de
32 anos, permitiu ter acesso a planos que indicam a possibilidade
de atacar a Bolsa de Valores de
Nova York e prédios do Fundo
Monetário Internacional e do Citigroup.
Hindi tinha autonomia de ação
e teria se avistado com Bin Laden
pela última vez antes de 2001,
quando então lhe foi confiada a
tarefa de identificar alvos "financeiros e judaicos". Ele nasceu na
Índia, algo bastante raro entre os
terroristas.
Há ainda a prisão em março, no
Reino Unido, de oito britânicos
de origem paquistanesa que armazenavam um produto que poderia ser transformado em explosivos. O fato deixou claro que se
recrutava sobretudo entre imigrantes, com raízes comunitárias
que os sauditas responsáveis pelo
11 de Setembro não tinham nos
Estados Unidos.
Os serviços secretos europeus
compreenderam que não bastava
priorizar a caça ao terrorismo em
gestação entre árabes que haviam
combatido os russos no Afeganistão
Os europeus também levam a
sério o empenho do governo paquistanês na desmobilização dos
terroristas que se articulam em
seu território. Entre os 60 presos
em meados de julho se encontrava Mohammed Naim Khan, um
técnico em informática de 25 anos
que abriu informações sobre planos de ataques aos Estados Unidos e Reino Unido.
Homem de ligação entre a cúpula da Al Qaeda e núcleos dispersos, Khan armazenava em seu
computador informações que o
qualificavam como "oficial superior", com contatos constantes,
por exemplo, com seis militantes
baseados nos Estados Unidos,
país que ele visitava, a exemplo do
que fizera na Malásia, Indonésia e
Nepal.
O governo paquistanês queixou-se aos europeus de que os Estados Unidos foram indiscretos
ao revelar a identidade de alguns
dos extremistas presos. Caso não
o fizessem, outros terroristas poderiam ser neutralizados em outros países.
Os serviços europeus não sabem como lidar com a hipótese de
que Bin Laden está com sua influência em baixa. Constatam que
uma mensagem dele, anunciada
por websites islâmicos, não foi
ainda difundida. Ou ele tem dificuldades suplementares de comunicação a partir de seu esconderijo, ou então não chegou o momento de, por exemplo, transmitir algo cifrado que prenuncie um
novo atentado.
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