São Paulo, domingo, 23 de agosto de 1998

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VÍTIMAS DE GUERRA
Imigrantes na América Latina foram levados para campos de detenção durante Segunda Guerra Mundial
Japoneses exigem indenização dos EUA

Conheça a história de japoneses enviados a campos americanos Yaki, 67, no porto de Callao, em Lima, no Peru, de onde eram deportados os japoneses para campos de detenção nos Estados Unidos

LIA HAMA
enviada especial a Lima

Levados à força para campos de concentração nos EUA durante a Segunda Guerra Mundial, imigrantes japoneses e seus descendentes que vivem em países da América Latina promovem uma campanha para exigir do governo norte-americano indenização e pedido de desculpas.
A "Campanha por Justiça", uma organização internacional baseada nos EUA, lançou um movimento para localizar milhares de latino-americanos de ascendência japonesa que foram detidos e transferidos para campos nos Estados Unidos na década de 40.
De acordo com Grace Shimizu, representante norte-americana da "Campanha por Justiça", 2.264 homens, mulheres e crianças de origem nipônica na América Latina foram levados aos campos nos Estados Unidos.
Mais de 80% deles vinham do Peru, diz Shimizu. O restante eram imigrantes residentes em outros 12 países da América Latina: Bolívia, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua e Panamá.
A exemplo dos japoneses norte-americanos que, a partir de Lei dos Direitos Civis (Civil Liberties Act) de 1988, receberam do então governo Reagan uma carta de desculpas e ressarcimento de US$ 20 mil, os latino-americanos querem uma indenização de mesmo valor.
Em junho deste ano, o governo norte-americano ofereceu uma compensação de US$ 5 mil aos japoneses da América Latina, um quarto do valor oferecido aos japoneses norte-americanos.
"É uma discriminação inaceitável. Sofremos a mesma humilhação que os norte-americanos", diz Germán Yaki, 67, peruano deportado quando tinha 13 anos junto com sua família para o Estado do Texas (leia texto nesta página).
Outra reclamação dos ex-internos é o prazo de cerca de dois meses, dado pelo governo norte-americano para pedidos de indenização, considerado curto. O prazo terminou no dia 10 deste mês.

Campos de concentração
O Departamento de Justiça norte-americano calcula que, entre 1941 e 1946, mais de 120 mil cidadãos de origem nipônica foram retirados de suas casas na Costa Leste dos EUA e no Havaí e levados para os campos de concentração.
O movimento de "internação" ou "relocação", como é chamado pelo governo norte-americano, foi iniciado logo após o ataque japonês à base americana de Pearl Harbor, em dezembro de 1941.
Segundo o Departamento de Justiça, a ação seria resultado de uma "histeria" coletiva da sociedade norte-americana e do temor de sabotagem de japoneses que moravam no país.
Trazidos de navio aos EUA, os japoneses latino-americanos foram levados para campos de concentração em diversos Estados do país.
Em seus países de origem, tiveram suas contas bancárias bloqueadas, os bens confiscados e as instituições da comunidade japonesa fechadas pelos governos aliados.
Muitos deles não sabiam para onde eram levados. "Não sabia o que ia acontecer, se ia morrer ou ser torturada. No Peru, recebíamos cartas de conhecidos dizendo que estavam bem, mas eu não acreditava", conta Yuriko Tanaka, que tinha 12 anos quando foi levada aos EUA.
Durante a guerra, mais de 800 internos foram trocados por civis norte-americanos no Japão.

Pedido de desculpas
Em carta assinada em setembro de 1996, o presidente Bill Clinton, mais de 50 anos após o término da guerra, fez um pedido de desculpas aos japoneses americanos pelos "erros do passado, em nome da nação norte-americana".
"Eu ofereço minhas sinceras desculpas pelas ações que injustamente negaram aos japoneses americanos e às suas famílias direitos fundamentais durante a Segunda Guerra Mundial."
De acordo com o documento, as ações norte-americanas teriam sido motivadas por preconceito racial e "histeria de guerra".



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