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Deportados latino-americanos
passavam por "desinfecção'
da enviada especial
"Como é possível ser mandado
para fora de um país só por motivos raciais?", pergunta Miyoko
Mishima de Sakata, 63, peruana
deportada aos Estados Unidos aos
9 anos de idade.
Em março de 1944, Miyoko e sua
irmã Yuriko, então com 12 anos,
foram mandadas junto com os
pais para o campo de concentração de Crystal City, no Texas, para
onde foi a maior parte dos deportados do Peru.
O pai, Shoichi Michima, era um
comerciante próspero de Lima. A
família morava no bairro de San
Isidro, considerado de classe alta
na época, diz Yuriko.
Quando estourou a guerra, Michima, assim como outros imigrantes japoneses, teve sua conta
bancária bloqueada e os bens confiscados pelo governo peruano,
aliado dos norte-americanos.
Segundo Yuriko, foram três semanas de viagem de navio, que
saiu do porto de Callao, no Peru, e
chegou a Nova Orleans, nos EUA.
Em Nova Orleans, os deportados
eram levados a locais onde homens e mulheres eram separados e
forçados a tirar as roupas, para depois passarem por um processo de
"desinfecção". "Foi humilhante", diz Yuriko.
De lá, partiam de trem para a região desértica do Texas até o campo de Crystal City, onde eram separados por famílias nos alojamentos. Tal trajetória foi semelhante à de outros nipo-peruanos
enviados aos Estados Unidos.
Nos campos, recebiam cartões
de racionamento para comida e
roupas. Os banheiros, assim como
os refeitórios, eram coletivos.
Segundo os relatos, os internos
não foram torturados nem obrigados a trabalhar. "Não foi como
nos campos nazistas da Alemanha", diz Germán Yaki. Segundo
ele, quem quisesse trabalhar recebia uma quantia que era "igual
para médicos ou jardineiros".
As pessoas mais velhas não gostam de falar sobre o período de internação, diz Tomaz Hayashi, 56,
levado para Crystal City quando
era bebê.
Segundo ele, após a guerra, seu
pai, um importador de tecidos que
tinha 24 anos quando fora mandado para os EUA, evitou durante
muitos anos tocar no assunto.
"Os mais velhos sofreram mais
psicologicamente. Sentiam-se como prisioneiros, impedidos de
sair, vigiados por torres com soldados. Nós, que éramos crianças,
não tínhamos essa consciência",
afirma.
Hayashi atribui o silêncio do pai
à suposta característica oriental,
de "guardar os sentimentos" e
não expressá-los, como fazem os
latino-americanos.
(LH)
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