São Paulo, domingo, 23 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PÓS-URSS
Apesar da emigração, comunidade judaica mantém presença ativa no país
Judaísmo na Rússia vive renascença, diz historiador

da Reportagem Local


Apesar da onda migratória que levou mais de 700 mil judeus a sair das ex-repúblicas soviéticas nos últimos anos, a comunidade judaica tem hoje "forte presença" na vida política, econômica e cultural desses países, principalmente na Rússia. O fenômeno poderia ser chamado de "renascença" do judaísmo, ocorrendo sobretudo em solo russo.
"Com a liberalização política do país, a vida cultural, principalmente da Rússia, renasceu. Hoje, os judeus estão presentes nos governos e importantes setores da economia", diz Rashid Kaplanov, historiador da Universidade de Moscou. Segundo ele, ainda vivem cerca de 1 milhão de judeus, na Rússia, país que conta com 148 milhões de habitantes.
Kaplanov, que também é presidente do Centro Moscovita Para o Ensino Universitário da Civilização Judaica, veio ao Brasil a convite da Folha e do Fundo Comunitário da Federação Israelita do Estado de São Paulo.
Na quinta-feira à noite, ele realizou palestra na Folha e falou sobre a situação dos judeus nas 15 repúblicas que formavam a URSS, principalmente na Rússia.
Com a abertura política comandada nos anos 80 pelo ex-presidente Mikhail Gorbatchov, a partir de 1989, mais de 700 mil judeus emigraram do país. Kaplanov afirma que o principal período da emigração ocorreu nos anos 89, 90 e 91, quando a crise econômica e política atravessou seu período mais agudo na era da perestroika.
Ainda hoje, segundo Kaplanov, cerca de 50 mil emigram por ano.
"Muita gente emigrou por motivos econômicos, outros por segurança pessoal. Para muita gente a perestroika podia ser uma ameaça à própria vida, já que ninguém sabia o que podia acontecer", diz.
Para Kaplanov, o anti-semitismo é um fenômeno em baixa na Rússia. O pesquisador menciona pesquisas nas quais de 10% a 15% dos entrevistados mostraram ter sentimentos anti-semitas.
Apesar da avaliação positiva sobre a intolerância, Kaplanov não descarta a possibilidade de o anti-semitismo crescer, já que ainda há correntes anti-semitas no país.
Para ele, por participarem ativamente dos governos atuais na ex-URSS, os judeus podem ser associados à atual instabilidade política e econômica da Rússia.
O historiador considera remota a possibilidade de o comunismo voltar à Russia. "Não queremos mais experiências", afirma.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.