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DIPLOMACIA
Em seminário em NY, presidente ataca também a ocupação do Iraque, unindo-se às críticas de Annan e Chirac
Lula faz crítica à ação antiterror dos EUA
KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Em mais um gesto para marcar
diferenças com a administração
de George W. Bush, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva atacou
duramente ontem a política de
combate ao terrorismo dos Estados Unidos em um seminário em
Nova York, com a presença de 25
chefes de Estado e de governo.
Apesar de não ter citado o nome
do país, foram claras as referências aos EUA pós-11 de Setembro.
Exemplo: "O ódio que anima os
terroristas não se dissipará pelo
emprego de métodos repressivos". Lula bateu pesado ao defender a reformulação da ONU. Afirmou que "enfraquecê-la", o resultado prático da política unilateral
dos EUA, "significa fortalecer os
inimigos da paz".
Criticou expedientes da ""guerra
ao terror", como a detenção de
suspeitos sem amparo judicial.
A retórica em relação aos EUA
deve continuar hoje, quando Lula
faz o primeiro discurso na abertura da 58ª Assembléia Geral da
ONU. Desde a criação da ONU,
em 1946, um brasileiro fala após o
secretário-geral abrir oficialmente os trabalhos da entidade.
No seminário ""Combatendo o
Terror pela Humanidade", Lula
atacou os terroristas, mas até
quando se referiu ao 11 de Setembro o fez também de modo crítico
em relação aos EUA. Disse que a
data do maior atentado terrorista
da história ficaria gravada "em
nossa memória como o marco
trágico de um ciclo de violência
que infelizmente não parece prestes a terminar".
Todo o pronunciamento de Lula teve como pano de fundo um
tom de campanha por uma vaga
permanente no Conselho de Segurança (CS) da ONU.
O presidente adotou linha semelhante à do secretário-geral da
ONU, Kofi Annan, e do presidente da França, Jacques Chirac. Logo
após o seminário, Lula almoçou
com Annan e se encontrou com
Chirac, em busca de apoio para
obter uma vaga no CS.
"Nós temos as nossas diferenças", disse Chirac a Lula, em tom
de brincadeira. A França tem forte protecionismo agrícola, o que o
Brasil critica.
Após falar com Chirac, Lula encontrou-se com o premiê da Espanha, José María Aznar -aliado
dos EUA na Guerra do Iraque. O
CS e o protecionismo europeu
também foram os assuntos.
Trechos suprimidos
Num discurso todo lido, devido
à tradução simultânea que dificultava improvisos e ao exíguo tempo para que 25 conferencistas pudessem falar, Lula disse que a
atuação da ONU "não pode se limitar a aspectos humanitários".
"Se os métodos e estruturas da
ONU não satisfazem às exigências
do mundo contemporâneo,
apressemo-nos em reformá-la e
modernizá-la", declarou.
Segundo Lula, a melhor forma
de "minimizar custos humanos e
materiais na luta contra o terrorismo" é "privilegiar instrumentos do diálogo, da diplomacia". A
linha do discurso do presidente
foi muito semelhante à do pronunciamento feito pouco antes
por Annan no mesmo seminário,
organizado pela Noruega e pelo
Prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel.
Quase no fim do discurso, Lula
pulou sete parágrafos que constavam da versão escrita distribuída
pouco antes. Um dos trechos negava a existência de atividades
terroristas na Tríplice Fronteira
(Brasil, Argentina e Paraguai).
O chanceler Celso Amorim disse que Lula precisava encurtar o
discurso por causa do tempo.
"Uma campainha estava tocando
o tempo todo. O presidente achou
que podia tirar a parte que se referia a assuntos internos do Brasil."
O presidente encerrou o discurso "com um pensamento para
Sérgio Vieira de Mello", brasileiro
que era o representante da ONU
no Iraque e que morreu em atentado no mês passado.
O pensamento foi outra crítica à
ocupação do Iraque pelo EUA. "O
exercício, pelo povo iraquiano, de
sua soberania e autodeterminação é condição essencial para a estabilização do país", disse. Afirmou que a ocupação cria "ambiente propício à perpetração de
atos terroristas".
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