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São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

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DIPLOMACIA

Em seminário em NY, presidente ataca também a ocupação do Iraque, unindo-se às críticas de Annan e Chirac

Lula faz crítica à ação antiterror dos EUA

KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Em mais um gesto para marcar diferenças com a administração de George W. Bush, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou duramente ontem a política de combate ao terrorismo dos Estados Unidos em um seminário em Nova York, com a presença de 25 chefes de Estado e de governo.
Apesar de não ter citado o nome do país, foram claras as referências aos EUA pós-11 de Setembro. Exemplo: "O ódio que anima os terroristas não se dissipará pelo emprego de métodos repressivos". Lula bateu pesado ao defender a reformulação da ONU. Afirmou que "enfraquecê-la", o resultado prático da política unilateral dos EUA, "significa fortalecer os inimigos da paz".
Criticou expedientes da ""guerra ao terror", como a detenção de suspeitos sem amparo judicial.
A retórica em relação aos EUA deve continuar hoje, quando Lula faz o primeiro discurso na abertura da 58ª Assembléia Geral da ONU. Desde a criação da ONU, em 1946, um brasileiro fala após o secretário-geral abrir oficialmente os trabalhos da entidade.
No seminário ""Combatendo o Terror pela Humanidade", Lula atacou os terroristas, mas até quando se referiu ao 11 de Setembro o fez também de modo crítico em relação aos EUA. Disse que a data do maior atentado terrorista da história ficaria gravada "em nossa memória como o marco trágico de um ciclo de violência que infelizmente não parece prestes a terminar".
Todo o pronunciamento de Lula teve como pano de fundo um tom de campanha por uma vaga permanente no Conselho de Segurança (CS) da ONU.
O presidente adotou linha semelhante à do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e do presidente da França, Jacques Chirac. Logo após o seminário, Lula almoçou com Annan e se encontrou com Chirac, em busca de apoio para obter uma vaga no CS.
"Nós temos as nossas diferenças", disse Chirac a Lula, em tom de brincadeira. A França tem forte protecionismo agrícola, o que o Brasil critica.
Após falar com Chirac, Lula encontrou-se com o premiê da Espanha, José María Aznar -aliado dos EUA na Guerra do Iraque. O CS e o protecionismo europeu também foram os assuntos.

Trechos suprimidos
Num discurso todo lido, devido à tradução simultânea que dificultava improvisos e ao exíguo tempo para que 25 conferencistas pudessem falar, Lula disse que a atuação da ONU "não pode se limitar a aspectos humanitários". "Se os métodos e estruturas da ONU não satisfazem às exigências do mundo contemporâneo, apressemo-nos em reformá-la e modernizá-la", declarou.
Segundo Lula, a melhor forma de "minimizar custos humanos e materiais na luta contra o terrorismo" é "privilegiar instrumentos do diálogo, da diplomacia". A linha do discurso do presidente foi muito semelhante à do pronunciamento feito pouco antes por Annan no mesmo seminário, organizado pela Noruega e pelo Prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel.
Quase no fim do discurso, Lula pulou sete parágrafos que constavam da versão escrita distribuída pouco antes. Um dos trechos negava a existência de atividades terroristas na Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai).
O chanceler Celso Amorim disse que Lula precisava encurtar o discurso por causa do tempo. "Uma campainha estava tocando o tempo todo. O presidente achou que podia tirar a parte que se referia a assuntos internos do Brasil."
O presidente encerrou o discurso "com um pensamento para Sérgio Vieira de Mello", brasileiro que era o representante da ONU no Iraque e que morreu em atentado no mês passado.
O pensamento foi outra crítica à ocupação do Iraque pelo EUA. "O exercício, pelo povo iraquiano, de sua soberania e autodeterminação é condição essencial para a estabilização do país", disse. Afirmou que a ocupação cria "ambiente propício à perpetração de atos terroristas".


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