|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Presidente se contradiz sobre bases do terror
DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Apesar de ter dito que "não há
elo direto de causa e efeito entre
pobreza e terrorismo", o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula
da Silva, se contradisse e relacionou uma coisa à outra em seu discurso em seminário sobre as causas do terrorismo ocorrido ontem, em Nova York.
"A associação automática entre
terrorismo e pobreza pode levar à
injusta discriminação contra países em desenvolvimento como
celeiros para terroristas", disse.
Logo na sequência, porém,
elencou uma série de problemas
que podem ser associados à pobreza como causa do terrorismo.
"A falta de acesso a bens elementares, inclusive educação e
bens culturais, corrói o tecido social e torna os indivíduos vulneráveis", afirmou.
Uma menção semelhante a essa
deverá constar do discurso de Lula hoje na abertura da 58ª Assembléia Geral da ONU.
Mais incisivamente, essa correlação havia sido feita no dia anterior por seu assessor especial e
coordenador de mobilização empresarial do Fome Zero, Oded
Grajew. "O terrorismo prospera
na miséria. É mais difícil ter a Al
Qaeda na Suécia do que no Afeganistão", disse Grajew, anteontem,
ao chegar a NY com o presidente.
Grajew disse ter autorização do
presidente para fazer críticas duras aos EUA em relação ao combate à miséria: "Ele não pode falar, mas me autorizou a falar".
"Para combater a pobreza deveria haver [da parte dos EUA] a
mesma mobilização de recursos
que existe em relação às 3.000 pessoas que morreram [no 11 de Setembro] e em relação à Guerra do
Iraque. É triste que tenham morrido 3.000, mas hoje [ontem]
morreram, por causa da fome, no
mundo 30 mil crianças com menos de cinco anos", disse Grajew.
O assessor especial criticou a
iniciativa norte-americana de pedir a outros países que colaborem
com recursos para um pacote reconstrução do Iraque no valor de
US$ 86 bilhões.
"Se houvesse vontade política
para pedir US$ 86 bilhões pela pobreza, seria diferente", afirmou
Grajew.
Ele disse que Lula irá se reunir
nos próximos dias com representantes de 14 multinacionais que
contribuirão para o Fundo Mundial de Solidariedade com ao menos US$ 3 milhões, no total.
Por iniciativa do assessor especial, essas empresas farão a primeira contribuição para o fundo
internacional de combate à pobreza criada em 2002 pelo ONU.
"Não havia um centavo no fundo,
zero. As contribuições organizadas pelo Brasil serão as primeiras."
(KA)
Texto Anterior: Encontro entre Lula e Bush ainda é incerto Próximo Texto: FMI e Banco Mundial associam pobreza a terror no Oriente Médio Índice
|