São Paulo, sábado, 23 de setembro de 2006

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Bush afirma que não sabia da ameaça a paquistanês

Musharraf vai à Casa Branca um dia depois de revelar ultimato dos americanos

Paquistaneses protestam; ex-subsecretário diz que foi duro, mas não ameaçou bombardear Paquistão de volta à idade da pedra

DA REDAÇÃO

O presidente George W. Bush se encontrou ontem com o ditador paquistanês, Pervez Musharraf, e disse ter sido surpreendido com a revelação do general de que os EUA ameaçaram bombardear o Paquistão após os ataques do 11 de Setembro caso não houvesse cooperação na luta contra o terror.
No Paquistão, a declaração gerou protestos e exibiu a fragilidade da aliança com os EUA na "guerra ao terror".
Em entrevista a ser exibida amanhã pela TV CBS, mas cujo conteúdo vazou anteontem, Musharraf contou que, depois dos atentados de 2001, o então subsecretário de Estado americano, Richard Armitage, fez a ameaça ao diretor de inteligência paquistanês e disse que o país voltaria à "idade da pedra".
Até então, o Paquistão, o segundo país muçulmano mais populoso do mundo, apoiava o regime do Taleban no vizinho Afeganistão, que virou o alvo da reação americana ao 11 de Setembro por abrigar o líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden.
Antes da revelação de Musharraf, Bush havia dito nesta semana que ordenaria ações militares no Paquistão caso dados indicassem a presença de Bin Laden no país, o que gerou reação paquistanesa, afirmando que nunca autorizaria.
Depois de revisar o registro de seu diálogo, Armitage negou ontem ter feito a ameaça, mas confirmou que foi duro. "Não houve ameaça militar, e eu não estava autorizado a fazê-la", afirmou. "Foi uma conversa forte e direta", definiu. Armitage é o mesmo que admitiu ter revelado em 2003 a identidade de uma espiã da CIA, no caso conhecido como Plamegate.
Dan Bartlett, conselheiro da Casa Branca, disse que a intenção da conversa de Armitage com o lado paquistanês era cobrar do Paquistão uma posição.
"Deixamos bem claro que fomos diretamente a Musharraf nos dias seguintes ao 11 de Setembro e dissemos que era hora de fazer uma escolha: "Vocês vão ficar ao lado do mundo civilizado ou com o Taleban e a Al Qaeda'", contou ele à CBS.
Bush disse ontem ter sido informado do assunto pela imprensa. "A primeira vez que soube foi quando li no jornal. Acho que fiquei embaraçado com a dureza das palavras."

Só em livro
Já Musharraf, na mesma coletiva na Casa Branca, não quis dar mais detalhes do episódio e citou um acordo com a editora de um livro a ser publicado como justificativa. "Vou lançar o meu livro no dia 25 [segunda] e estou comprometido com a Simon & Schuster [a editora] a não comentá-lo antes disso."
A autopropaganda do ditador provocou constrangimento, e Bush interveio com uma piada: "Em outras palavras, eles está dizendo para vocês comprarem o livro". À CBS, Musharraf afirmara que a ameaça de volta à idade da pedra "foi grosseira".
No Paquistão, 500 apoiadores do principal partido islâmico radical, que protestavam contra o papa Bento 16 pelas declarações sobre o islã, aproveitaram para criticar Musharraf. "Vendeu sua consciência e apunhalou o Afeganistão pelas costas", declarou um líder.
"Os comentários [do ditador] expõem o quão frágil é a relação do Paquistão com os EUA", avaliou Talat Masood, analista paquistanês e militar retirado.
Bush aproveitou o encontro na Casa Branca para elogiar Musharraf como um dos primeiros líderes a se juntar aos EUA após os atentados de 2001. Por outro lado, cobrou do paquistanês o compromisso de convocar eleições para 2007.
Musharraf se ocupou em defender um acordo de paz feito neste mês com tribos da fronteira com o Afeganistão, dizendo que a medida não representa apoio ao Taleban. O governo afegão não acredita, mas Bush afirmou que confia no aliado.


Com agências internacionais

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