|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasil oscila
entre suas pretensões
regional e global
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
"É a pureza de seu idealismo que impele o Brasil a criticar as Nações Unidas." Foi
assim que, em 1949, o país
estreou na tradição de ser o
primeiro orador da Assembléia Geral da ONU, questionando principalmente o
"abuso" do direito a veto dos
membros permanentes do
Conselho de Segurança.
Hoje, menos idealista e
mais pragmático, o país busca um assento permanente
no CS. O fracasso dessa empreitada neste ano coloca,
para muitos, o Brasil num
momento de definição de
rumo, entre o papel de destaque no desenvolvimento
ou na segurança, entre a liderança regional ou global.
Para o professor Edward
Luck, especialista em ONU
da Universidade de Columbia, o país deve enxergar essa dicotomia. "Por muitos
anos, o Brasil buscou um papel mundial, não um papel
regional, e sempre teve um
perfil autônomo, não alinhado. Isso de certa forma prejudicou o país. Não tinha o
peso da liderança na região
nem força suficiente para jogar o jogo das superpotências", avalia Luck.
Para ele, o fracasso do G-4
(Brasil, Alemanha, Japão e
Índia) em reformar o CS e
obter assentos permanentes
pressiona o país a focar os
objetivos de sua diplomacia.
"Se quiser os votos e apoio
dos vizinhos, precisará ser
mais cooperativo. Mas não
precisa disso se a idéia for ser
uma liderança global localizada na América Latina."
O embaixador do Brasil na
ONU, Ronaldo Sardenberg,
afirma que a reforma é imprescindível e avançará. Para o governo brasileiro, são
necessárias lideranças em
várias frentes: desenvolvimento, comércio, segurança
e ajuda humanitária. "[A reforma] continua em discussão e deverá passar por uma
etapa decisiva em novembro. A estrutura do Conselho de Segurança está ultrapassada", disse Sardenberg.
O Brasil ocupa pela nona vez
posto de membro não-permanente do CS.
Para o professor Maurício
Font, da City University de
Nova York, o Brasil age de
forma pragmática, buscando espaço para conquistas
que lhe interessam. "O Brasil
interage com as superpotências nas áreas que afetam
seus interesses econômicos.
É o caso no comércio internacional", disse Font.
No comércio, especialmente em disputas sobre
subsídios agrícolas, o Brasil
tem reconhecida liderança e
age muitas vezes como porta-voz contra as práticas
norte-americana e européia.
É assim em várias áreas do
desenvolvimento econômico. Em 45 dos últimos 60
anos da ONU, o país participou do Conselho Econômico e Social e, mais recentemente, lançou a Ação Contra a Fome e a Pobreza.
Se em 1959 o chanceler Oswaldo Aranha afirmou na
tribuna de abertura da assembléia que o Brasil não tinha "aspirações que não caibam todas dentro de nossas
possibilidades e fronteiras",
hoje o papel de liderança internacional é a meta, com
busca de novas alianças Sul-Sul na África, no Oriente
Médio e na América Latina.
O Itamaraty destaca a missão de paz no Haiti, chefiada
pelo Brasil, além das missões
em Angola, Moçambique e
Timor Leste. "São insustentáveis e precisam ser revertidos os desequilíbrios mundiais entre países pobres e ricos", resume Sardenberg.
Texto Anterior: Diplomacia: Em crise, ONU comemora 60º aniversário Próximo Texto: Reforma foi ampla, diz assessor de Annan Índice
|