São Paulo, sábado, 23 de novembro de 2002

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ANÁLISE

Ação nas zonas de exclusão já faz parte da guerra

PETER GRAFF
DA REUTERS

Se outra guerra contra o Iraque for declarada, as forças lideradas por Washington não precisarão gastar tempo na destruição das defesas antiaéreas do país. Afinal, EUA e Reino Unido já controlam o espaço aéreo iraquiano.
"Até agora, vemos que o trabalho realizado nas duas ou três primeiras semanas da Guerra do Golfo [1991] já foi realizado", afirmou Paul Beaver, especialista britânico em assuntos de defesa.
"Não há nenhuma dúvida de que, nos últimos seis meses, tem ocorrido uma gradual degradação das estruturas de comando do Iraque e de seus sistemas de controle e de defesa antiaérea. Na verdade, isso serviu para reduzir significativamente a capacidade do Iraque de detectar a invasão de seu espaço aéreo por aeronaves inimigas", acrescentou.
Os EUA e seus aliados poderão, portanto, realizar uma campanha aérea agressiva (e breve) antes de iniciar a guerra terrestre, de acordo com especialistas em questões militares. Porém, diferentemente do que ocorreu em 1991, há muita incerteza a respeito do que poderá ocorrer nesse estágio da ofensiva militar no Iraque.
Em 1991, a coalizão liderada pelos EUA conseguiu obrigar os soldados iraquianos a deixar o Kuait depois de cinco semanas de bombardeios e de apenas quatro dias de combates terrestres. E duas semanas se passaram antes que o general Normal Schwarzkopf, comandante das forças aliadas, pudesse declarar que controlava o espaço aéreo iraquiano.
Atualmente, com as defesas antiaéreas iraquianas já bastante minadas, os aviões americanos e britânicos (que patrulham as zonas de exclusão aérea) já gozam de grande liberdade de ação.
"Eles [os aviões] poderão atacar rapidamente o que bem quiserem, sabendo que os iraquianos não poderão responder às suas ações", disse Tim Ripley, do Centro de Estudos Internacionais e de Defesa da Universidade de Lancaster (Reino Unido).
Assim, os aviões aliados poderiam ir diretamente para uma fase que os militares costumam chamar de "preparação do campo de batalha". Normalmente, isso significa "bombardear intensivamente o Exército inimigo", segundo Ripley. Mas, desta vez, a situação deverá ser diferente.

Desafios distintos
Em 1991, de acordo com a frase do então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Colin Powell, o objetivo era "isolar" o Exército iraquiano no Kuait e, depois, "destruí-lo".
Desta feita, um dos objetivos será tentar convencer comandantes militares iraquianos a abandonar o ditador Saddam Hussein. Num cenário muito bem-visto em Washington, esses militares poderiam protagonizar um golpe de Estado que derrubaria Saddam em poucos dias, deixando o Exército mais ou menos intacto para manter a ordem pública.
"Falamos aqui de uma guerra psicológica. Assim, a "preparação do campo de batalha" não diz respeito a destruir as coisas, mas a transformar a cena política iraquiana", afirmou Ripley.
Nos últimos dez anos, as aeronaves americanas e britânicas que patrulham as zonas de exclusão aérea (situadas no norte e no sul do Iraque) destruíram inúmeras instalações de defesa antiaérea iraquianas. Nos últimos meses, elas intensificaram os ataques, bombardeando bunkers de comando e de controle do Exército iraquiano com frequência.
Washington espera que uma rápida ofensiva aérea impeça que Saddam consiga reunir forças para responder aos ataques ou para ameaçar seus vizinhos, reduzindo o número de baixas entre os civis e acalmando o mundo árabe.


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