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"FEMINISMO PRAGMÁTICO"
Sul-africana Christina Landman defende a prática, comum entre muçulmanos e africanos
Teóloga receita poligamia contra divórcio
ALEXANDRA OZORIO DE ALMEIDA
da Revista da Folha
A poligamia como solução para
os problemas de divórcio, infidelidade e doenças sexualmente transmissíveis. A proposta partiu de
Christina Landman, 42, a primeira
mulher africânder (minoria branca da África do Sul) a se tornar professora catedrática de teologia em
seu país, em 1991.
Em 1994, ela promoveu uma polêmica com a Igreja Reformada
Holandesa, da qual é membro, ao
publicar "The Piety of Afrikaans
Women" (A piedade das mulheres
africânderes). Nesse livro, argumenta que o mesmo calvinismo
que autorizaria os homens brancos a aderir ao apartheid também
os levaria a oprimir suas mulheres.
Professora da Universidade da
África do Sul há 20 anos, Landman
deixou em 1995 de se dedicar à história de Igreja para pesquisar a relação gênero-religião. Em um artigo publicado há dez dias, a teóloga
causou polêmica mais uma vez.
A sua tese, que começou como
um "entretenimento", argumenta
que um casamento poligâmico poderia acabar com "infidelidades e
diminuir a incidência de doenças
sexualmente transmissíveis".
Christina Landman concedeu, por
telefone, essa entrevista à Folha, de
Pretória, na África do Sul.
²
Folha - Qual é a atual discussão
sobre poligamia na África do Sul?
Christine Landman - As teólogas
negras africanas estão olhando para as suas culturas e tentando resgatar o que é bom para as mulheres. Em dezembro passado, durante o Conselho Mundial de Igrejas
em Harare, (Zimbábue), algumas
igrejas protestantes africanas pediram para ser admitidas no Conselho, mas foram recusadas porque
tinham líderes polígamos. Isso
causou muita discussão. E vai ser
promulgada a Lei de Reconhecimento de Casamentos Baseados
em Costumes,
que tornará a
poligamia legal
nesses casos.
Folha - Qual
sua posição em
relação à poligamia?
Landman -
Escrevo sobre
religião no
"Beeld", um
jornal africânder. Na minha
coluna do dia
14, decidi testar
a idéia da poligamia entre os
brancos. Essa
lei que foi criada é discriminatória, já que não vale para a minoria branca. Temos
altíssimas taxas de divórcio e muitas mulheres que não conseguem
se casar de novo. Um casamento
poligâmico poderia acabar com essas infidelidades e diminuir a incidência de doenças sexualmente
transmissíveis.
Escrevi mais
como entretenimento, mas
o artigo teve
enorme repercussão.
Folha - Como
foi a reação?
Landman - As
pessoas discutem se a poligamia é cultural
ou religiosa.
Gostaria que o
casamento fosse dissociado
de suas fortes
raízes religiosas e que a poligamia não fosse encarada como
um pecado contra Deus. Nem
mesmo a Bíblia é conclusiva. Houve reações positivas e negativas.
Mulheres solteiras e divorciadas
responderam bem à idéia.
Folha - Como se dá o casamento
na sociedade sul-africana branca?
Landman - É algo muito valorizado, o único tipo válido de relacionamento entre adultos. Os homens brancos têm relacionamentos amorosos simultâneos, um tipo de poligamia turva. Quando
descobrem, a melhor forma de ferir o marido é divorciando-se deles, pois o marido perde status na
sociedade. Mas elas passam a vida
lamentando o fato e dizem que teria sido melhor manter o casamento e aceitar uma nova parceira, ou
algo assim. A mulher só pode encontrar uma "casa" para a sua sexualidade no casamento, mas as
oportunidades são limitadas aqui.
Folha - É viável legalizar a poligamia para brancos?
Landman - A África é toda polígama. Algumas igrejas estão encorajando a poligamia por causa da
Aids e do divórcio, para evitar a
promiscuidade e dar um lar às mulheres. Acho que entre os brancos
demoraria muito tempo para funcionar, por causa da cultura. Mas
recebi cartas dizendo que já vivemos em poligamia, pois cerca de
70% dos homens africânderes têm
amantes. Romantizamos a monogamia. Foi bom expor a sociedade
a isso. Após tanta discussão, convenci-me de que a poligamia talvez
seja uma opção de "cura"', embora
ache que isso não ocorrerá.
Folha - Para que a sra. gostaria
que a poligamia servisse?
Landman - Sinto-me desconfortável valorizando tanto o casamento, mas a nossa sociedade só reconhece esse tipo de relacionamento.
Gostaria que as mulheres tivessem
poder nos relacionamentos e pudessem escolher a que homem ou
família se uniriam.
Folha - A sra. faz parte de uma
igreja conservadora. Como ela reagiu ao seu artigo?
Landman - A Igreja Reformista
Holandesa abriu espaço para discutir o assunto e não ameaçou me
expulsar. Acho isso impressionante, especialmente para uma igreja
que nunca deu atenção à voz das
mulheres.
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