São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REPERCUSSÃO

Henry Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista - "O judaísmo é contra a poligamia, apesar de ela ter sido aceita nos tempos bíblicos. O patriarca Abraão tinha três mulheres, e o rei Salomão tinha 700 mulheres e 300 concubinas. Consideramos a poligamia uma forma social primitiva e inferior. Tanto que foi se autodestruindo, até ser oficialmente proibida, no século 11. Se uma parte da população da África do Sul tem esse direito, as outras parcelas também devem tê-lo. Acreditamos em direitos iguais. O que é bom para negros também deve ser bom para brancos. Mas acho que a poligamia não serve para os interesses da sociedade."

Fernando Altemeyer Júnior, vigário de comunicação da Arquidiocese de São Paulo - "Impor padrões ocidentais aos negros é um equívoco, mas o contrário também o é. Instalar a poligamia entre os brancos sul-africanos é romper com a tradição ocidental. Sexualidade é algo cultural. Quanto a haver poucos homens brancos na África do Sul, o Brasil matou toda a população masculina do Paraguai no século 19, tragédia da qual eles ainda não se recuperaram, mas nem por isso vêem a poligamia como saída.
"E a proposta dela é meio antifeminista. As mulheres não precisam dos homens para serem felizes, não deve haver essa idéia de que a mulher só é feliz se é casada. Não acho que a teoria dela dê certo. É uma solução fraca para um problema maior."

Peter Fry, professor de antropologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - "É muito engraçado ver uma africânder propor essa nova teoria. Foram justamente os africânderes que inventaram o sistema em que cada povo tem a sua cultura, sua língua. E os africânderes são cristãos muito religiosos. O que mais os diferenciava dos africanos negros era justamente esse fervor, a crença no casamento e na família nuclear, com uma mulher e filhos.
"A poligamia entre os negros é uma forma de construção de poder, é a base de sua economia política: quanto mais mulheres, mais filhos; com o casamento das filhas, o pai recebe mais gado, aumentando a sua riqueza. O que importa na poligamia é o número de filhos que as mulheres legítimas dão aos maridos. Já a poligamia proposta por essa teóloga é de uma lógica totalmente ocidentalizada. Ela quer colocar as mulheres divorciadas de volta no mercado. É uma forma divertida de reinterpretar a instituição."

Armando Hussein Saleh, xeque da Sociedade Beneficente Muçulmana de São Paulo - "A poligamia não é uma boa ou má idéia, é uma solução. O islamismo encontrou nela a melhor forma de regulamentar as mulheres e amantes. Com Maomé, ficou decidido que cada homem pode ter até quatro mulheres ao mesmo tempo. Todas são oficiais.
"Assim, evitam-se crianças bastardas, doenças. O homem tem de ser justo com todas e tem de ter motivos para tê-las. A prostituição e o adultério são proibidos."



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.