São Paulo, sábado, 24 de abril de 2010
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Crítica expõe mal-estar militar na Venezuela
Analistas dizem que reclamação pública sobre influência cubana por general da reserva pode ser foco de tensão no futuro
FLÁVIA MARREIRO DE CARACAS A crítica do general da reserva Antonio Rivero à presença cubana nas Forças Armadas da Venezuela deve ser motor de um debate sobre as mudanças na doutrina militar, o que pode gerar tensão no futuro, dizem analistas ouvidos pela Folha. Rivero, que passou à reserva no começo do mês, afirmou anteontem, em mais de uma entrevista, que militares cubanos participam de atividades de planejamento, treinamento e inteligência e não descartou que sua crítica ao tema seja compartilhada por colegas ainda na ativa. Ele criticou ainda a formação da Milícia Nacional Bolivariana -que treina civis e é o quarto componente das Forças Armadas- e a "politização" do corpo militar. O general foi, até 2008, diretor de Proteção Civil, equivalente à Defesa Civil no Brasil, e até o começo deste ano era chefe do Estado-Maior da 5ª Divisão de Infantaria de Selva. "A declaração dele, que é um homem que tinha proeminência pública, é a expressão de um certo mal-estar que deve haver nas Forças Armadas. Todos temos amigos militares. O que ele disse outros falam", diz o jornalista e sociólogo opositor Teodoro Petkoff sobre a suposta ingerência cubana. Ele e Luis Alberto Buttó, professor da Universidade Simón Bolívar, ressalvam ser difícil avaliar a reverberação interna da crítica de Rivero. A controvérsia sobre a influência cubana no governo Chávez povoa o noticiário venezuelano, predominantemente de aberta oposição a Chávez. No começo do ano, reportagens apontaram o elo cubano como motivo para a renúncia do então vice-presidente Ramón Carrizález e de outros três integrantes do gabinete. Uma fonte próxima ao governador do Estado de Lara, Henri Falcón, recentemente rompido com o chavismo, afirmou à Folha que ele foi procurado por um grupo de militares no fim de março para tratar do tema. O governo Chávez não comentou as declarações do general. No site ligado ao chavismo www.aporrea.org, um texto afirma que, ao reclamar "da preciosa ajuda que a inteligência militar cubana presta ao Exército venezuelano", o general quer armar um show midiático para lançar-se às eleições legislativas de setembro -Rivero não descarta concorrer. Para o professor Buttó, o que está em jogo são as mudanças no corpo militar venezuelano desde 1999, quando a Constituição retirou o termo "apolítico" da definição das Forças Armadas. Diz que, portanto, não é inconstitucional que os militares se expressem politicamente, como requerido por Chávez, mas que isso pode trazer tensões no futuro. "A identificação deveria ser com a nação." Como Rivero, ele critica o fato de que, por meio da Lei Orgânica das Forças Armadas aprovada em 2009, Chávez tenha agora uma patente militar. "Pela Constituição, ele é o Comandante em Chefe das Forças Armadas. Ao ganhar cargo operativo militar, parte da hierarquia, exclui-se a supremacia civil sobre os militares." Texto Anterior: EUA preparam superarma convencional Próximo Texto: Por apoio ao Irã, Lula receberá premiê turco Índice |
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