São Paulo, domingo, 24 de maio de 2009

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Com novo comando no Afeganistão, ação superará diplomacia

Para especialistas, razões políticas e estratégias levam Casa Branca a buscar resultados rápidos em estratégia para país

Stanley McChrystal, o novo comandante das forças da Otan na guerra, aumentará violência tentando declarar vitória, dizem ex-oficiais

CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

A nomeação do general Stanley McChrystal como novo comandante no Afeganistão das forças da Otan, a aliança militar ocidental, tem o potencial de entrar em contradição com a intenção declarada pelo presidente Barack Obama de dar peso e tempo à diplomacia na solução do conflito regional.
Sob McChrystal, que chefiou as Forças de Operações Especiais, a violência que gerou milhares de refugiados na fronteira afegã-paquistanesa deve aumentar, disseram especialistas à Folha, entre eles dois militares reformados dos EUA.
O homem que porá em campo o reforço de tropas anunciado por Obama -no total, 21 mil novos soldados americanos embarcarão para o país neste ano- é descrito como "de ação". Próximo do secretário da Defesa, Robert Gates, no cargo desde o governo George W. Bush, e do chefe do Comando Central, David Petraeus, McChrystal é especialista em "caçadas humanas".
No Iraque, ele recebeu o crédito pela captura do ditador deposto Saddam Hussein, no final de 2003, e pelo assassinato em 2006 de Abu Musab al Zarqawi, autoproclamado líder da Al Qaeda no país árabe.
O general será sabatinado no Senado. Espera-se sua confirmação, mas ele deve ser questionado por seu papel no encobrimento da morte por fogo amigo, em 2004, de Pat Tillman, estrela do futebol americano que lutava no Iraque.
Tillman foi descrito como um herói morto em combate. Uma investigação do Pentágono inocentou McChrystal, mas ele foi repreendido por não ter avisado a família do jogador sobre as circunstâncias verdadeiras de sua morte.
Embora os documentos oficiais da Casa Branca enfatizem a busca de solução negociada para o conflito afegão-paquistanês, com o envolvimento dos europeus e dos países vizinhos (Irã, Rússia, Índia), o ex-oficial do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA Robert Haddick diz que McChrystal, 54, tem pouca experiência diplomática.
Haddick afirma que nesse aspecto o futuro comandante aparece em desvantagem em relação ao atual, David McKiernan, 59, ex-chefe das forças dos EUA na Europa.

Razões e cenários
Para ele, além do bom relacionamento com McChrystal, Gates teria tido mais duas razões para trocar o comando da guerra contra o Taleban, grupo fundamentalista deposto na invasão americana de 2001: a resistência europeia em aumentar seu envolvimento no conflito e a necessidade de uma alternativa para declarar vitória.
"A pior coisa que pode acontecer a Obama é ficar atolado num pântano na região. Por razões políticas e estratégicas, eles querem resultados", concorda David Rothkopf, pesquisador da Fundação Carnegie para a Paz Internacional. "Com mais soldados, dinheiro e foco, a violência aumentará", afirma.
Intensificada a guerra, especialistas apontam três cenários. No primeiro, a Otan mata ou captura troféus -como o mulá Omar, o misterioso líder do Taleban afegão-, declara vitória e sai. "É o melhor cenário, mas não resolve o problema da instabilidade paquistanesa, um Estado nuclear", diz Rothkopf.
No segundo, a pressão enfraquece e divide o Taleban, que retira exigência de cronograma de retirada dos EUA e negocia um governo afegão de coalizão.
No terceiro, considerado o mais provável por Andrew Bacevich, coronel reformado do Exército, as consequências para os civis fortalecem o Taleban e adiam o fim do conflito.


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