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Cuba aceita transferir presos, diz igreja
Em concessão do governo, detentos políticos irão a presídios perto de suas casas, e doentes serão internados
Gesto ocorre cinco dias depois de reunião entre o arcebispo de Havana, Jaime Ortega, e Raúl Castro, a 1ª desde 2008
DE SÃO PAULO
O governo cubano aceitou
transferir, a partir de hoje,
presos políticos para presídios perto de suas cidades de
origem e internar em hospitais os detentos doentes.
A informação é da Igreja
Católica, que está fazendo a
mediação entre o regime e a
dissidência na ilha.
Anteontem, o bispo auxiliar de Havana, Juan de Dios
Hernández, visitou no hospital Guillermo Fariñas, dissidente em greve de fome há
três meses, e relatou a transferência dos presos.
A igreja foi informada do
fato pelo Partido Comunista
Cubano, segundo a Associated Press. Mas até ontem não
fora feito nenhum anúncio
oficial da medida.
Fariñas disse à Folha que
há 17 detentos políticos presos fora de suas Províncias
de residência e 26 doentes
(nas contas da igreja, são 37).
Mas ele não sabe quantos serão de fato realocados.
"Estou cético e em expectativa. Vamos esperar até
amanhã [hoje] para ver se começam [as transferências]",
afirmou Fariñas, que jejua
para demandar a soltura dos
presos doentes.
A dissidência cubana calcula que o país tenha um total de 200 presos políticos -o
que o governo nega, considerando os detidos mercenários a serviço de Washington.
PRIMEIRO ENCONTRO
O gesto ocorre cinco dias
depois de um encontro entre
o arcebispo de Havana, cardeal Jaime Ortega, e Raúl
Castro, pela primeira vez desde que este se tornou dirigente máximo, em 2008.
O líder da Conferência
Episcopal do país, Dionisio
García (presente no encontro), disse que o governo demonstrou "boa vontade".
A igreja, de relação historicamente conturbada com o
regime, iniciou, segundo ela
própria, "um diálogo em estilo totalmente novo" com o
governo. Recentemente, obteve a permissão para que o
grupo Damas de Branco, de
mulheres de presos políticos,
voltasse a marchar.
Fariñas, que está hospitalizado, diz que, apesar do
gesto do governo e de sua
saúde debilitada, manterá
sua greve de fome até que os
presos doentes sejam libertados. "Somos concretos em
nossa demanda. [A transferência] não é exatamente o
que solicitamos."
A morte por greve de fome
de outro dissidente, o preso
político Orlando Zapata, em
fevereiro, elevou a pressão
sobre o regime castrista.
E a expectativa por libertações de presos políticos aumenta com a visita do chanceler do Vaticano, Dominique Mamberti, a Havana,
agendada para 20 de junho.
Em 1998, após histórica visita do papa João Paulo 2º,
Havana libertou 300 presos.
Mas Fariñas disse que foi
informado de que Mamberti
não tratará de libertações durante sua visita.
Com agências de notícias
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