São Paulo, domingo, 24 de junho de 2001

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IUGOSLÁVIA

Pressionado por Estados Unidos e Europa, governo aprova decreto que regula cooperação com corte da ONU

Decreto permite deportação de Milosevic

DA REDAÇÃO

O governo iugoslavo aprovou ontem um decreto que regula sua cooperação com o tribunal da ONU para crimes de guerra na ex-Iugoslávia e permite o envio de suspeitos como o ex-ditador Slobodan Milosevic à corte em Haia (Holanda).
O decreto diz respeito a "pessoas responsáveis por graves violações aos direitos humanos cometidas no território da ex-Iugoslávia desde 1991", disse o ministro do Interior, Zoran Zivkovic. O decreto deve entrar em vigor hoje.
Milosevic e quatro de seus ex-colaboradores já foram indiciados pelo tribunal por crimes de guerra cometidos em 1999 em Kosovo, Província do sul da Sérvia, República que, junto com Montenegro, forma a Iugoslávia.
Milosevic deteve o poder na Iugoslávia por 13 anos. Ele foi destituído por revolta popular em outubro passado após denúncias de fraude na eleição contra o candidato oposicionista Vojislav Kostunica, o atual presidente do país. O ex-ditador foi detido em abril, acusado de corrupção.
Os reformistas da coalizão DOS, majoritários no governo, decidiram aprovar o decreto apesar da oposição de seus aliados do Partido Socialista do Povo (PSP), de Montenegro. O decreto foi aprovado por oito votos a um. Os seis ministros do PSP, que se aliou a Milosevic no passado, boicotaram a votação de ontem e ameaçam renunciar.
Belgrado está sob forte pressão dos EUA e da União Européia para mostrar disposição de cooperar com o tribunal da ONU antes de uma reunião internacional de doadores, esta semana, que deve destinar mais de US$ 1 bilhão em ajuda para o país, que atravessa grave crise econômica.
Os EUA já deixaram claro que só participarão da reunião na sexta-feira, em Bruxelas, se verificarem sinais de progresso na cooperação de Belgrado com o tribunal da ONU.
Analistas acreditam que a Iugoslávia terá de fazer mais do que apenas passar o decreto, como entregar um ou mais suspeitos antes da reunião de doadores, para satisfazer Washington.
Milosevic, figura central numa década de guerras nos Bálcãs que deixaram centenas de milhares de mortos, divulgou uma nota desafiadora pouco antes da decisão de ontem, negando as acusações de crimes contra a humanidade levantadas pelo tribunal da ONU.
"O meu destino está ligado ao destino do Estado e da nação. O caso contra mim foi fabricado", disse ele em nota divulgada por seu advogado.
"Fiz tudo em benefício da nação e do Estado, e foi difícil tomar decisões, mas sempre me inspirei na nossa história gloriosa. Espero que a história faça o julgamento final", disse Milosevic.
A atual Constituição iugoslava proíbe a extradição de cidadãos do país. Os reformistas recorreram ao decreto após não conseguirem o apoio do PSP para aprovar uma moção no Parlamento federal regulando a colaboração com o tribunal. O PSP disse que o tribunal da ONU é contrário à Iugoslávia.
Desde a prisão de Milosevic, a polícia sérvia já descobriu covas com corpos do que se suspeita sejam vítimas de massacres em Kosovo. Analistas crêem que as descobertas minam ainda mais o já reduzido apoio de Milosevic entre os nacionalistas sérvios.


Com agências internacionais



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