São Paulo, domingo, 24 de junho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUROPA

Apesar da excelência, setor teme superprodução e disputa com vinhos "bons e baratos"

Em crise, vinho francês terá safra rara

PASCAL GALINIER
DO "LE MONDE"

Estará o setor vinícola francês se equilibrando à beira do abismo? Em clima de curiosa mistura entre euforia e inquietude, começou em Bordeaux, na semana passada, a Vinexpo, ou Feira Mundial do Vinho. Euforia porque a safra de 2000, segundo a opinião geral, é excelente. Inquietude porque, mais uma vez, o setor vinícola se encontra prestes a entrar em crise por excesso de produção.
"A crise já começou", diz um observador do mercado. Segundo o instituto de estudos Xerfi, o setor de vinhos já alcançou a maturidade na França.
Um relatório da entidade diz que a queda histórica do consumo verificada ao longo dos anos 1990 foi contida, e a tendência tinha até começado a se inverter, apesar da alta dos preços, de 27,7% nos últimos dez anos.
Em 1999, 91,5% das famílias francesas compraram vinho, com um consumo médio anual de 49 litros. Dois anos mais tarde, porém, o consumo voltou a cair. Em 2000, os volumes consumidos recuaram em 1,6%, e o mesmo ocorreu em abril deste ano, quando houve retração de 1%.
Hoje, segundo o Xerfi, o mercado se pauta apenas pela qualidade. O aumento dos preços no varejo (4,2% em média em 2000) que acompanhou a queda no consumo aumentou o faturamento do setor em 2,5% em 2000, e o mesmo deve se repetir este ano.
No entanto a alta dos preços começa a atingir as exportações, que caíram 4,4% em função da redução dos pedidos de vinho branco no exterior (especialmente da Alemanha), da reação contrária ao efeito do réveillon 2000 sobre o champanhe e do distanciamento de alguns dos tradicionais mercados do vinho Bordeaux, caso do Reino Unido, para onde as exportações caíram 20% em dois anos. O único consolo é que as importações de vinhos estrangeiros também diminuíram muito na França: 5,5% em termos de volume.
Mas a alta dos preços não pode continuar. A colheita farta de 1998-1999 provocou inchaço dos estoques, o que se traduz numa queda dos preços pagos aos produtores (5%, em média, em 2000). No caso dos vinhos mais simples, pode-se até falar em desabamento dos preços (de até 30%).
A alta dos preços da safra de 97 provocou quedas de 20% a 25% nas vendas dos vinhos Bordeaux nas feiras do outono de 98.
Outro motivo de preocupação é a presença de concorrentes do Novo Mundo, que estão fazendo grande força para tomar o lugar dos vinhos franceses. Os vinhedos do hemisfério Sul (no Chile, na África do Sul e na Austrália) plantaram muito nos últimos anos. "Corremos o risco de sermos submersos por um mar de vinhos de gama mediana, de preço baixo e, o que é pior, bons", diz Jacques Lurton, herdeiro de família de negociantes de Bordeaux e que se lançou no setor dos vinhos estrangeiros. E, à exceção da Austrália, a safra de 2000 também foi ótima nos territórios que fazem concorrência com a França.


Tradução de Clara Allain



Texto Anterior: Oposição diz que medida é preconceituosa
Próximo Texto: Panorâmica - Oriente Médio: Autoridade Palestina interroga o líder da Jihad Islâmica e detém militantes
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.