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EUROPA
Apesar da excelência, setor teme superprodução e disputa com vinhos "bons e baratos"
Em crise, vinho francês terá safra rara
PASCAL GALINIER
DO "LE MONDE"
Estará o setor vinícola francês se
equilibrando à beira do abismo?
Em clima de curiosa mistura entre euforia e inquietude, começou
em Bordeaux, na semana passada, a Vinexpo, ou Feira Mundial
do Vinho. Euforia porque a safra
de 2000, segundo a opinião geral,
é excelente. Inquietude porque,
mais uma vez, o setor vinícola se
encontra prestes a entrar em crise
por excesso de produção.
"A crise já começou", diz um
observador do mercado. Segundo
o instituto de estudos Xerfi, o setor de vinhos já alcançou a maturidade na França.
Um relatório da entidade diz
que a queda histórica do consumo verificada ao longo dos anos
1990 foi contida, e a tendência tinha até começado a se inverter,
apesar da alta dos preços, de
27,7% nos últimos dez anos.
Em 1999, 91,5% das famílias
francesas compraram vinho, com
um consumo médio anual de 49
litros. Dois anos mais tarde, porém, o consumo voltou a cair. Em
2000, os volumes consumidos recuaram em 1,6%, e o mesmo
ocorreu em abril deste ano, quando houve retração de 1%.
Hoje, segundo o Xerfi, o mercado se pauta apenas pela qualidade. O aumento dos preços no varejo (4,2% em média em 2000)
que acompanhou a queda no consumo aumentou o faturamento
do setor em 2,5% em 2000, e o
mesmo deve se repetir este ano.
No entanto a alta dos preços começa a atingir as exportações, que
caíram 4,4% em função da redução dos pedidos de vinho branco
no exterior (especialmente da
Alemanha), da reação contrária
ao efeito do réveillon 2000 sobre o
champanhe e do distanciamento
de alguns dos tradicionais mercados do vinho Bordeaux, caso do
Reino Unido, para onde as exportações caíram 20% em dois anos.
O único consolo é que as importações de vinhos estrangeiros também diminuíram muito na França: 5,5% em termos de volume.
Mas a alta dos preços não pode
continuar. A colheita farta de
1998-1999 provocou inchaço dos
estoques, o que se traduz numa
queda dos preços pagos aos produtores (5%, em média, em 2000).
No caso dos vinhos mais simples,
pode-se até falar em desabamento
dos preços (de até 30%).
A alta dos preços da safra de 97
provocou quedas de 20% a 25%
nas vendas dos vinhos Bordeaux
nas feiras do outono de 98.
Outro motivo de preocupação é
a presença de concorrentes do
Novo Mundo, que estão fazendo
grande força para tomar o lugar
dos vinhos franceses. Os vinhedos
do hemisfério Sul (no Chile, na
África do Sul e na Austrália) plantaram muito nos últimos anos.
"Corremos o risco de sermos submersos por um mar de vinhos de
gama mediana, de preço baixo e,
o que é pior, bons", diz Jacques
Lurton, herdeiro de família de negociantes de Bordeaux e que se
lançou no setor dos vinhos estrangeiros. E, à exceção da Austrália, a safra de 2000 também foi
ótima nos territórios que fazem
concorrência com a França.
Tradução de Clara Allain
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