São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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DIREITOS HUMANOS

Organização se diz particularmente preocupada com alastramento do conflito pela vizinha Inguchétia

Anistia acusa russos de estupro e tortura na Tchetchênia

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Diferentemente da versão do Kremlin, a situação na Tchetchênia, república secessionista situada no sudoeste da Rússia, ainda não foi estabilizada, e as violações aos direitos humanos cometidas pelas forças russas estão se alastrando pela vizinha Inguchétia, de acordo com relatório publicado ontem pela Anistia Internacional.
"O segundo conflito na Tchetchênia desde o fim da URSS [1991] já dura cinco anos. Apesar das declarações oficiais de que a situação está se normalizando aos poucos, nada indica que o confronto esteja chegando ao fim ou que as violações aos direitos humanos cometidas por ambas as partes cessarão", disse à Folha a assessoria de imprensa da AI.
Segundo o relatório, intitulado ""Normalização" aos Olhos de Quem?", as forças de segurança russas e tchetchenas pró-Moscou "continuam a praticar impunemente violações aos direitos humanos". "Isso inclui assassinatos extrajudiciais, "desaparecimentos", tortura, incluindo estupro, e maus-tratos", diz o texto da AI.
"Só algumas famílias tchetchenas não foram afetadas pelos abusos cometidos pelas forças de segurança. Muitos homens desaparecem, e as mulheres são alvo de tortura ou de estupro", afirmou a assessoria de imprensa. O primeiro conflito recente na Tchetchênia ocorreu entre 1994 e 1996.
O relatório foi publicado um dia depois que supostos guerrilheiros tchetchenos, considerados "terroristas" por Moscou, atacaram imóveis governamentais na Inguchétia, matando 92 pessoas, ferindo 125 e forçando o presidente russo, Vladimir Putin, a admitir que seu governo não tem feito o suficiente para proteger a região.
A situação da Inguchétia preocupa muito a AI. "Os abusos, que ocorriam sobretudo na Tchetchênia, estão se alastrando pela Inguchétia. Nos primeiros meses de 2004, parece que houve um crescimento do número de "desaparecimentos" e de assassinatos na Inguchétia, afetando os tchetchenos e a população local", diz o estudo.
A Inguchétia abriga cerca de 50 mil refugiados tchetchenos. Mais de 50 mil tchetchenos e por volta de 15 mil militares russos morreram por conta dos conflitos na região nos últimos dez anos. A AI também acusa os guerrilheiros tchetchenos de cometer atrocidades contra civis inocentes.


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