São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IRAQUE OCUPADO

Um dia após assumir a decapitação de civil sul-coreano, grupo adverte Allawi e diz que matará mais estrangeiros

Terroristas ameaçam matar futuro premiê

DA REDAÇÃO

A uma semana de tomar posse, o premiê interino iraquiano, Iyad Allawi, foi ameaçado de morte em uma gravação atribuída ao terrorista jordaniano Abu Musab Zarqawi, que também prometeu intensificar a campanha contra estrangeiros no país, após ter reivindicado a decapitação de um civil sul-coreano, anteontem.
Um site extremista islâmico divulgou ontem a gravação contendo as ameaças, na qual o interlocutor se apresenta como Zarqawi. "Quanto a você, Allawi -desculpe, o premiê democraticamente eleito- achamos para você um veneno útil e uma espada certeira", diz a voz atribuída a Zarqawi, que, segundo os EUA, tem ligação com a Al Qaeda. A fita segue afirmando que continuaria a "preparar armadilhas" até que o premiê "beba do mesmo copo de Izzedin Salim", uma referência ao presidente do extinto Conselho de Governo Iraquiano morto por um carro-bomba em maio.
Mais tarde, uma segunda mensagem extremista foi divulgada na TV Al Arabyia, que exibiu um vídeo no qual terroristas ameaçam atacar Allawi caso ele cumpra sua promessa de instaurar lei marcial em algumas regiões do país a fim de conter a violência.
O futuro premiê -um ex-membro do partido do ex-ditador Saddam Hussein (Baath) e ex-colaborador da CIA (serviço secreto dos EUA)- minimizou a ameaça. "Não nos importamos com essas ameaças, vamos continuar a reconstruir o Iraque e a trabalhar pela liberdade, pela democracia, pela justiça e pela paz", disse um porta-voz de Allawi. Em entrevista ao diário italiano "Il Giornale", o premiê afirmou que Zarqawi ameaça "todos os iraquianos", citando a série de ataques com carros-bomba neste ano. "Ele matou centenas de iraquianos, prometeu desordem e medo."
Allawi, que tem como maior obstáculo ao seu governo a violência, pediu à Otan (aliança militar ocidental) que trabalhasse no treinamento das incipientes forças de segurança iraquianas. O pedido fica um tom abaixo da solicitação americana para que a Otan atuasse na segurança do país, vetada pela França e pela Alemanha. O governo francês, veemente opositor da guerra, disse que consideraria o pedido do governo interino. A proposta deve ser levada a votação pelos membros na próxima semana.

Decapitação
O assassinato do tradutor Kim Sun-il pelo mesmo grupo que agora ameaça o premiê interino iraquiano causou protestos em toda a Coréia do Sul.
Em Seul, cerca de 2.000 pessoas fizeram uma vigília perto da Embaixada dos EUA, durante a qual exibiram cartazes com os dizeres "Não queremos morrer; soldados coreanos, dêem o fora", aludindo ao apelo final de Kim, e "Bush e Roh mataram Kim Sun-il", referindo-se aos presidentes George W. Bush (EUA) e Roh Moo-hyun (Coréia do Sul).
Em um raro discurso televisionado, Roh disse ter o "coração partido", chamou o assassinato de "crime contra a humanidade" e condenou o terrorismo, prometendo "lidar com ele junto com a comunidade internacional".
Capturado no último dia 17 perto de Fallujah, Kim foi decapitado -a ação foi filmada pelos terroristas, e o vídeo foi entregue à rede de TV por satélite Al Jazira (Qatar), que cenas levou ao ar.
Os seqüestradores exigiam que o governo sul-coreano revertesse o envio de 3.000 soldados ao país e retirasse suas tropas de apoio, mas a demanda foi recusada.
Horas após o corpo de Kim ter sido encontrado, o comando americano disse ter matado 20 combatentes estrangeiros em uma nova operação em Fallujah contra um suposto esconderijo de Zarqawi. No sábado, um ataque semelhante na cidade, bastião do regime deposto, deixou 22 mortos -terroristas, segundo os EUA, ou civis, segundo a polícia.
Também ontem, uma mulher e um menino morreram quando uma bomba deixada por insurgentes explodiu em Bagdá.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Direitos humanos: Anistia acusa russos de estupro e tortura na Tchetchênia
Próximo Texto: EUA estudam julgar Saddam antes de eleição
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.