São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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HAITI

Militares fazem cordão de isolamento para evitar saques em lojas incendiadas

Tropa do Brasil atua em incêndio

Daniel Morel/Reuters
Soldados do Brasil ajudam sem-teto que dormia diante de uma loja incendiada em Porto Príncipe


RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na véspera de assumir de fato a responsabilidade pela segurança do Haiti, as tropas brasileiras da força de paz da ONU ajudaram a conter um grave incêndio no centro da capital, Porto Príncipe, atitude que pode ajudar a conquistar os "corações e mentes" da população local -objetivo declarado há dias pelo comando brasileiro.
O incêndio não fez vítimas, mas destruiu os dois lados de um quarteirão de uma rua de comércio popular, "como o Saara no Rio de Janeiro, ou a 25 de março em São Paulo", segundo informou por telefone o porta-voz do contingente brasileiro, coronel Luiz Felipe Carbonell, oficial de comunicação social da Brigada Haiti.
A brigada é constituída por 1.200 homens do Exército e do Corpo de Fuzileiros Navais. Trata-se da maior unidade da Minustah (Missão da ONU de Estabilização no Haiti), comandada pelo general-de-divisão brasileiro Augusto Heleno Ribeiro Pereira.
A força de paz foi criada pelo Conselho de Segurança da ONU depois da crise do começo do ano, que levou ao exílio o presidente Jean-Bertrand Aristide e causou uma intervenção militar internacional liderada por EUA e França.
O combate ao incêndio foi feito por bombeiros haitianos, mas o papel dos militares brasileiros foi essencial em criar um cordão de isolamento em torno do foco. Por ser uma área comercial, o risco de saques era grande. O cordão envolveu um pelotão -em torno de 50 homens- composto por soldados e fuzileiros navais.
Os brasileiros também ajudaram os lojistas e camelôs a transportar a mercadoria salva do incêndio. O premiê Gérard Latortue e outros políticos haitianos visitaram o local, sob segurança dos brasileiros.
Apesar de o general Heleno ter simbolicamente assumido o posto de comandante da Minustah no começo do mês, apenas hoje ele recebe a responsabilidade, com a saída da maior parte das tropas de intervenção. Saem americanos e franceses, ficam chilenos e canadenses.
Mesmo antes disso os brasileiros já começam a se desdobrar operacionalmente. Ontem, um pelotão foi enviado para cuidar da segurança em Hinche, de onde saíam as tropas de intervenção.
As tropas brasileiras ainda estão chegando. Ontem foi a vez de 222 militares saídos do Rio Grande do Sul e transportados em avião fretado pela ONU. O 19º Batalhão de Infantaria Motorizado, de São Leopoldo (RS), contribui com a maior parte do pessoal brasileiro.
Também ontem chegou à capital haitiana um avião de transporte Hercules C-130 da FAB (Força Aérea Brasileira) para levar ao Brasil o corpo do cabo da Marinha Rodrigo Duarte de Azevedo, morto anteontem, aos 25 anos, depois de sofrer um mal súbito.
Azevedo integrava a tripulação do Navio de Desembarque de Carros de Combate Mattoso Maia, uma das quatro embarcações brasileiras enviadas ao Haiti e a único que permanece ali para dar apoio às tropas.
A chegada do corpo ao Brasil estava prevista para a madrugada de hoje. Azevedo será sepultado hoje no cemitério do Irajá, na zona norte do Rio.
Segundo a Marinha, o cabo sofreu duas paradas cardíacas, a primeira a bordo do navio, quando fazia exercícios, e a segunda no aeroporto da capital, pouco antes de embarcar para a República Dominicana, onde receberia tratamento.
Até o fechamento desta edição não havia sido divulgado o laudo oficial sobre a morte.

Colaborou a Sucursal do Rio


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