UOL


São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IRAQUE OCUPADO

Principal articulador da resistência é o próprio Saddam, que segue vivo; fim do clã pode até aumentar ataques

Mortes não devem cessar ataques aos EUA

ROBERT FISK
DO "INDEPENDENT"

Em uma família obcecada, e com bons motivos, pela segurança pessoal, será que Qusay e Uday Hussein estariam realmente juntos na casa atacada em Mossul? Será que se permitiriam cair em uma armadilha? Os dois chamados "Leões do Iraque" teriam sido pegos na mesma jaula?
Saddam passou seus anos de juventude como fugitivo da polícia. Mas sempre viajou sozinho. Na adversidade, sua família aprendeu a se manter separada, como aconteceu durante a Guerra do Golfo (1991) e durante a invasão do Iraque de março passado.
Até mesmo no poder, Saddam e seus filhos estavam sempre se escondendo. Mesmo que testes de DNA provem que os corpos eram dos filhos de Saddam, os iraquianos acreditarão? E isso levaria a guerra de guerrilha a um fim? Primeiro, mesmo que Uday e Qusay possam estar mortos, está claro que Saddam continua vivo.
Ainda que Uday fosse tanto um homem cruel quanto um psicopata, os filhos eram simples apêndices do rei, apenas assistentes na caverna do monstro. Saddam continua vivo. E sua voz continua a ser ouvida em gravações, em todo o Iraque. É do destino dele que os iraquianos querem saber.
Segundo, e muito mais importante, existe um mal-entendido fundamental entre as autoridades de ocupação norte-americanas no Iraque e o povo cujo país elas estão ocupando. Os EUA acreditam que toda a resistência aos pró-cônsules norte-americanos no país seja composta por "remanescentes" dos seguidores de Saddam, por gente envolvida em "resistência amarga" ou "resistência até a morte" -as expressões usadas pelos norte-americanos são muitas. A teoria deles é a de que, assim que a família Hussein for decapitada, a resistência se encerrará. Mas os guerrilheiros que estão combatendo e matando soldados norte-americanos todos os dias também estão sendo influenciados por um crescente movimento islâmico sunita que jamais apreciou Saddam.
O mais importante, na verdade, é que muitos iraquianos relutam em apoiar a resistência por medo de que o final da ocupação norte-americana envolva o retorno do velho e repulsivo ditador. Se eles e seus filhos estão mortos, as chances são de que a oposição à ocupação liderada pelos EUA cresça, em lugar de diminuir. Afinal, com o fim definitivo de Saddam, os iraquianos não teriam mais nada a perder combatendo os norte-americanos.


Texto Anterior: EUA dizem que exames confirmam mortes; anfitrião seria o delator
Próximo Texto: Petrobras acerta compra de óleo iraquiano
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.