UOL


São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SUSTO

Mortes, aparentemente por conta de disputa política local, reabrem a discussão sobre o nível de cuidado tomado por autoridades

Tiroteio mata 2 na Prefeitura de Nova York

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Duas pessoas foram mortas a tiros ontem dentro da Prefeitura de Nova York, cidade que vive há quase dois anos sob alto alerta de segurança por causa do medo de novos atentados terroristas.
As mortes, aparentemente decorrentes de uma disputa política local, reabrem a discussão sobre o nível de cuidado tomado pelas autoridades. Mais importante prédio público da cidade, a prefeitura tem detectores de metais em suas entradas, instalados durante as obras de reforço da segurança ocorridas após o 11 de Setembro.
Um dos mortos é um vereador do Brooklyn (um dos distritos da cidade) e fundador de um movimento contra a violência urbana.
James Davis, 41, teria sido morto por Othniel Askew, 31. Segundo a versão divulgada pela polícia a partir do depoimento de testemunhas, Askew baleou o vereador durante uma sessão da Câmara Municipal, que funciona no segundo andar do prédio.
Em seguida, o próprio Askew não resistiu a ferimentos sofridos. As autoridades não sabem se ele foi morto por um policial ou se cometeu suicídio.
Os dois entraram juntos no prédio. Eles não passaram pelo detector de metais: os vereadores e o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, tinham a prerrogativa de não o fazerem, e Askew aparentemente se aproveitou da companhia de Davis. A medida foi revogada ainda ontem.
Davis entrara para a polícia em 1993, após apanhar de dois policiais brancos -ele era negro e assumira seu cargo de vereador em 2001. Askew pretendia concorrer contra ele na eleição do Brooklyn, mas um vereador disse que os dois estariam entrando em acordo. A polícia disse não ter, por enquanto, outra hipótese além da disputa política.
Por ser ex-policial, Davis tinha licença para carregar uma arma, o que fazia ontem. Bloomberg, porém, afirmou que sua arma não teve participação no crime.
"O sistema matou meu irmão. É o mesmo sistema que matou Malcom X. Vamos continuar a luta", afirmou Jeffrey Davis, irmão do vereador morto.
O tiroteio, que aconteceu pouco depois das 14h locais (15h de Brasília), paralisou novamente o sul de Manhattan -região onde ficavam as torres do World Trade Center e que, no início do mês, tivera o trânsito suspenso por causa do temor de novos ataques. Ontem, a polícia fechou diversas ruas e a ponte do Brooklyn.
Bloomberg estava no prédio no momento do tiroteio e se viu em meio a grande confusão ao tentar explicar o que se passava.
Inicialmente, disse que a polícia ainda procurava o assassino -no prédio e nas redondezas. "É um ataque não só às duas pessoas. É um ataque à democracia, a todos os americanos", disse Bloomberg na primeira entrevista coletiva.
Depois, quando investigadores acharam as fitas que mostravam os dois envolvidos entrando no prédio sem passar pelo detector, tentou explicar a situação, dizendo que a decisão era justificada "do mesmo modo como pilotos de avião não passam pelos detectores nos aeroportos."
"Vamos assegurar que todo mundo passe pelo detector, inclusive eu. Tragicamente, vivemos num mundo em que temos de equilibrar a segurança e o direito das pessoas de ir e vir. Quem não passar pelo detector não vai entrar, ponto final", afirmou o prefeito nova-iorquino.
Com níveis de impopularidade sem precedentes para os ocupantes do cargo, Bloomberg disse que nada em sua vida fora pior do que o aconteceu ontem. "Não penso que tinha tido um dia tanto duro em 61 anos quanto o de hoje. Um político eleito de Nova York foi morto aqui dentro da prefeitura", afirmou ele, um empresário bilionário do setor de comunicações.
Depois das mortes, Bloomberg se reuniu com os vereadores e pediu a eles que tentassem levar uma mensagem à população: "Ainda se trata de uma cidade maravilhosa, e, claramente, o mundo não é um lugar perfeito".


Texto Anterior: Igreja: Relatório da Justiça diz que 800 sofreram abuso sexual em Boston
Próximo Texto: Reino Unido: Site da BBC diz que empresa tem gravação de conversa com Kelly
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.