São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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"É a minha última chance, sr. Blair", implora refém

DA REDAÇÃO

O britânico Kenneth Bigley, que está seqüestrado no Iraque, implorou em vídeo exibido ontem na internet para que o premiê Tony Blair faça algo para impedir a sua execução. Familiares dele também fizeram apelos dramáticos pela sua libertação.
Apesar da pressão, o governo britânico disse que descarta a hipótese de negociar com terroristas, que já decapitaram dois reféns americanos -um na segunda-feira e outro na terça-feira.
Em vídeo divulgado pelos seqüestradores, Bigley, 62, fez um apelo direto a Blair para que a sua vida seja salva, atendendo à exigência feita pelos terroristas, de que todas as mulheres iraquianas presas no Iraque sejam libertadas.
"Eu preciso que você me ajude agora, sr. Blair. Eu não mereço morrer", afirmou Bigley. "Preciso que seja piedoso, como o sr. sempre disse que foi", apelou.
"Esta é possivelmente a minha última chance. Por favor, ajude-me a rever a minha mulher, o meu filho e a minha mãe. Eu não quero morrer", implorou o refém britânico, vestido com um uniforme laranja, tal qual os dois americanos assassinados. Essa vestimenta é a alusiva à usada pelos prisioneiros muçulmanos na prisão dos EUA em Guantánamo (Cuba).
"Por favor, por favor, por favor, liberte as mulheres que estão nas prisões iraquianas. Por favor, ajude-as", disse, em meio a crises de choro.
Bigley e os os americanos Eugene Armstrong e Jack Hensley foram seqüestrados na semana passada por um grupo terrorista comandado pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, o principal mentor do terrorismo no Iraque, com vínculos com a Al Qaeda.
Os dois reféns americanos foram decapitados. Armstrong na segunda-feira, após expirar um primeiro ultimato de 48 horas, e Hensley na terça-feira, após fim de novo prazo de 24 horas para que as mulheres fossem soltas. Não há novo ultimato divulgado.
A mãe de Bigley, Elizabeth, 86, implorou aos seqüestradores para que o seu filho seja libertado. "Por favor, vocês poderiam ajudar o meu filho? Ele é apenas um trabalhador que quer sustentar a família. Tenham piedade do meu Ken e enviem-no de volta para casa vivo. A família precisa dele. Eu preciso dele", afirmou Elizabeth em uma mesa, sentada entre dois irmãos de Bigley, sem conseguir segurar as lágrimas. Elizabeth, que tem problemas cardíacos, passou mal no final do dia e teve de ser internada num hospital.
Phil, irmão de Bigley, disse que a família tentou isolar a mãe da imprensa, mas "agora ela pediu para fazer algo que pudesse ajudar. É a ligação que existe entre uma mãe e o filho que a levou a fazer o apelo aos seqüestradores de Ken", disse.
O gabinete de Blair disse que o premiê telefonou ontem para a família de Bigley, em Liverpool, pela segunda vez em dois dias. Não foi divulgado o teor da conversa.
Acreditando que qualquer concessão encorajará mais seqüestros, o governo britânico assumiu linha dura publicamente, avessa à negociação. Já nos bastidores, segundo a agência Reuters, utiliza canais diplomáticos para tentar ajudar na libertação do refém.
"Nós não podemos barganhar com os terroristas" disse o chanceler britânico Jack Straw.
Blair, por um lado, não pode ceder aos militantes, pois atentaria contra os princípios de seu governo, mas, por outro, sabe que, se algo Bigley for assassinado, seu governo enfrentará oposição ainda mais forte em relação a sua participação no Iraque.
Há apenas duas mulheres detidas no Iraque, ambas ligadas aos programas de armas biológicas de Saddam Hussein. A libertação de uma delas é discutida entre os EUA e o governo iraquiano em ato não conectado aos seqüestros.

Insurgência
O vice-presidente da companhia petrolífera North Oil Company, Sana Toma Suleiman, foi morto ontem por atiradores quando deixava a sua casa em Mossul, no norte do Iraque. Ele havia sobrevivido a outras duas tentativas de assassinato.


Com agências internacionais


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