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AMÉRICA LATINA
Guillermo Lopez é o terceiro menemista acusado de mau desempenho a sair do tribunal desde que Kirchner assumiu
Cai outro ministro do Supremo argentino
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
O ministro da Corte Suprema
argentina Guillermo Lopez demitiu-se ontem do cargo, que ocupava desde 1994. É o terceiro ministro a sair desde a posse do presidente Néstor Kirchner, em maio.
Todos eles haviam sido nomeados por Carlos Menem (1989-99)
e faziam parte da "maioria automática", grupo de cinco ministros
que ficou assim conhecido por
aprovar todos os pleitos encaminhados pelo ex-presidente.
"Essa renúncia e os demais afastamentos são uma chance para
oxigenar as estruturas do Supremo", disse Alberto Fernández,
chefe-de-gabinete de Kirchner.
Lopez mas não explicou os motivos de sua demissão. O Congresso iniciaria nesta semana uma investigação que o acusaria de mau
desempenho das funções.
Antes dele, renunciaram Julio
Nazareno, presidente do Supremo, acusado de corrupção, e
Eduardo Moliné O'Connor, proibido de exercer suas funções a pedido do Senado, que o acusava de
mau desempenho.
Crise positiva
"A Corte Suprema está passando por uma crise, está enfraquecida e desmoralizada", afirmou
Norberto Casanello, diretor da
comissão de Justiça da Associação
dos Advogados de Buenos Aires.
"Mas é uma crise positiva, um
momento de reconstrução. O Supremo é a cabeça da Justiça, quem
dá o exemplo, e isso mostra que
iniciamos um processo de renovação."
Segundo Casanello, a partir da
reforma no Supremo toda a Justiça argentina será renovada. "Prova disso é a intenção do governo
da Província de Buenos Aires de
democratizar mais a escolha dos
juízes da Corte Suprema provincial", disse. O objetivo é fazer com
que os juízes passem por um crivo
popular antes da posse -a escolha não seria apenas do Executivo.
Essa medida foi adotada por
Kirchner após a renúncia de Nazareno. O juiz que irá substituí-lo
foi indicado pelo presidente, mas,
antes de ser sabatinado pelo Senado, passou por um período de
aprovação pela sociedade civil. O
governo fixou um prazo para que
a população se manifestasse de
forma favorável ou não à indicação. "Houve debate público, e isso
é positivo para a democracia",
disse Casanello.
Para o cientista político Jorge
Giacobbi, as mudanças no Supremo são um primeiro passo, mas
não garantem que o órgão passe a
ser realmente independente. "Sabemos que Kirchner não quer que
a corte continue como está. Agora, precisamos saber, e isso só o
tempo dirá, se ele quer uma Justiça independente", disse.
O Supremo, que deveria trabalhar com nove integrantes, tem
agora apenas seis. Serão sete a
partir da próxima semana, quando toma posse o ministro que irá
substituir Nazareno, Eugênio Zaffaroni.
"O Poder Judiciário cumpre
uma função política. Cada sentença é um ato de governo", declarou
Zaffaroni durante a sabatina no
Senado que analisava a sua indicação, aprovada anteontem.
"Acho que a Argentina passou
por um processo político muito
difícil. Foi uma crise institucional
que colocou o sistema no limite e
deixou o país mais vulnerável",
disse Zaffaroni à Folha.
Para o novo ministro, "[o ex-presidente Eduardo] Duhalde
conseguiu, aos poucos, recuperar
certa estabilidade, e Kirchner chega num segundo momento, para
devolver a esperança à população;
ele representa uma renovação política, de estilo político".
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