São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004

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China emerge como potência adversária dos EUA

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

Com a maior população do mundo e uma economia que há vários anos cresce a um ritmo superior ao da economia americana, a China é a grande ameaça à hegemonia dos EUA no século 21. A grande dúvida é que tipo de poder ela será e qual o grau de confronto que estará disposto a manter com a atual superpotência.
O presidente Hu Jintao e a cúpula do Partido Comunista repetem incessantemente que a China terá uma ascensão "pacífica", da qual está descartada qualquer pretensão hegemônica.
Wang Yong, professor da Escola de Estudos Internacionais da Universidade de Pequim, diz que o governo chinês reconhece a liderança americana em vários setores e tem consciência de que faltam algumas décadas para a China ter o grau de desenvolvimento das nações ocidentais mais ricas.
Para muitos teóricos, principalmente nos EUA, o confronto entre as duas potências será inevitável no futuro. Wang refuta essa posição e afirma que a crescente dependência econômica entre os dois países é um elemento que reduzirá a possibilidade de conflito.
Os Estados Unidos são o maior destino das exportações chinesas e um dos principais investidores estrangeiros no país. Além disso, dependem da China para financiar seu crescente déficit externo. O país asiático tem reservas internacionais de US$ 470 bilhões, formadas principalmente por títulos do Tesouro dos EUA.
A maior ameaça à relação bilateral é a ilha de Taiwan, que poderá levar a um confronto indesejado pelos dois lados. A China iniciou nos anos 90 um processo de modernização de suas Forças Armadas, em grande parte para enfrentar a possibilidade de um conflito armado com os EUA em torno da independência de Taiwan.
No caso dos americanos, a ilha é fundamental para sua influência na região Ásia-Pacífico. Para os chineses, a reunificação de Taiwan com o continente tornou-se uma política de Estado e toca em sentimentos nacionalistas profundos. O governo americano não reconhece a independência de Taiwan, mas está obrigado por decisão do Congresso a defender a ilha em caso de agressão externa. E os chineses já avisaram que adotarão uma solução militar caso o movimento separatista de Taiwan seja vitorioso.
Wang ressalta que os dois lados farão tudo para manter a situação atual, na qual a ilha não tem status de país independente. "Formou-se um novo campo de interesse estratégico comum para os dois países e eles farão tudo para preservar o crescente interesse econômico", afirma o professor.

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