São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004

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Mídia faz autocrítica sobre a cobertura do governo republicano

NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA

A mídia americana chega ao fim da campanha eleitoral, uma das mais polarizadas da história, segundo relatos, após uma seqüência de atos públicos de contrição -de três de seus mais respeitados órgãos, "The New York Times", "The Washington Post" e a rede CBS.
Começou em 26 de maio no "NYT", num texto assinado "dos editores", com críticas à cobertura que o próprio jornal fez do Iraque. Em especial, da suposta existência de armas de destruição em massa, usada como justificativa pelo governo de George W. Bush para a invasão. Do "NYT":
- Nós deveríamos ter sido mais agressivos em questionar as declarações... As reportagens problemáticas dependeram pelo menos em parte de um círculo de informantes iraquianos.
Um, em particular, foi destacado pelo jornal: Ahmad Chalabi. Ele foi a fonte de vários dos textos "problemáticos" assinados pela repórter Judith Miller. Mas para o "NYT" o problema da cobertura foi "mais complicado" do que "repórteres individualmente".
Passando a responsabilidade para a cúpula que havia deixado o jornal meses antes, o texto "dos editores" afirmou que "editores em vários níveis que deveriam pressionar os repórteres por ceticismo estavam talvez muito preocupados em correr com furos para o jornal".
A exemplo do "NYT", também o "Washington Post" evitou pedir desculpas abertamente, em seu ato público de contrição -a reportagem assinada pelo colunista de mídia Howard Kurtz, em 12 de agosto, ouvindo editores e repórteres do jornal.
Novamente, o problema declarado foi que o "WP" não questionou como devia a suposta existência de armas de destruição em massa no Iraque. A diferença é que o jornal de Washington fez as reportagens críticas, mas não deu destaque na primeira página.
Editores como Leonard Downie Jr. e o célebre Bob Woodward -do caso Watergate- admitiram seus erros, em caráter individual, mas outros, como a editora Liz Spayd, declararam que não deviam desculpas aos leitores.
Desculpas, de fato, só foram surgir no terceiro episódio envolvendo a mídia e o governo republicano. Desta vez, não mais por cobertura leniente de Bush, mas o oposto: por recorrer a documentos ao que tudo indica fraudados, contra o presidente.
No programa "60 Minutes", o principal jornalista da CBS, Dan Rather, apresentou as supostas provas, que passaram por severo escrutínio de sites e jornais. Por fim, em 20 de setembro, a rede soltou um comunicado:
- Baseado no que sabemos agora, a CBS não pode provar que os documentos são autênticos. Nós não devíamos tê-los usado. Foi um erro, que lamentamos profundamente.
Rather complementou, em comunicado à parte:
- Fizemos um erro de julgamento, e por ele eu peço desculpas.

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