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Gore Vidal diz que ação militar dos
EUA apenas nutre novos rancores
STEPHANIE HOLMES
DA REUTERS
O escritor americano Gore Vidal, 76, acusou ontem Washington de travar "uma guerra perpétua pela paz perpétua" e disse que
a ofensiva militar dos EUA contra
o Afeganistão está apenas nutrindo novos rancores. Num ataque
mordaz à política externa americana, Vidal disse à "Reuters" que
os EUA estariam melhor servidos
se tentassem negociar a paz com
Osama bin Laden em vez de mandarem bombardeiros para levá-lo
a julgamento e matá-lo.
Vidal, um dos críticos mas duros das políticas americanas contemporâneas, tem enfrentado dificuldades para encontrar quem o
ouça nos EUA e está publicando
sua nova coleção de ensaios na
Itália, país que adotou.
"Qualquer um pode descrever o
que aconteceu, mas você tem de
pensar para perceber as motivações de Bin Laden. Isso é trabalho
duro e irá torná-lo bastante impopular", disse Vidal sobre os ataques suicidas de 11 de setembro
em Nova York e no Pentágono,
que os EUA atribuem à organização terrorista de Bin Laden.
"Bin Laden ataca os EUA num
momento em que estamos entrando numa depressão mundial.
É o momento mais frágil no Ocidente. Por tratar-se de uma pessoa que não nos deseja o bem, isso
foi brilhantemente programado",
comentou o escritor.
Por mais de meio século, Vidal
vem chocando as instituições
norte-americanas com comentários sobre questões políticas, culturais e sociais. Em seu novo livro
de ensaios, "The End of Liberty
-Towards a New Totalitarianism" (o fim da liberdade -rumo a um novo totalitarismo), o
escritor critica o governo e a mídia dos EUA por não tentarem explicar as razões por trás da tragédia ocorrida em setembro.
A capa do livro mostra uma foto
da cabeça da Estátua da Liberdade com a boca amordaçada por
uma bandeira americana. Um dos
ensaios detalha uma série de ataques dos EUA contra vários países desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-45).
O ensaio foi originalmente encomendado por uma revista americana depois de 11 de setembro,
mas foi rejeitado por causa da
contundência de suas críticas.
"Eu listei nesse pequeno livro
cerca de 400 ataques que o governo americano fez contra outros
países. Guerra não declarada. Geralmente, com a desculpa de que
esses países estavam abrigando
comunistas. Você ataca pessoas
por tanto tempo, uma delas irá se
voltar contra você", comentou o
escritor.
Segundo ele, a ofensiva americana contra o Afeganistão não foi
a resposta certa. "O que Osama
fez não é uma guerra. Não pode
ser guerra porque Osama não é
uma nação. Ele é uma gangue. É
como ser atingido pela máfia. Você não declara guerra à Sicília porque a máfia é da Sicília. Você não
bombardeia Palermo. Você pega
a polícia internacional e caça Bin
Laden. E, se você for realmente
uma grande nação, você o compra. Essa é a forma como cada império, desde Júlio César, tem agido", disse Vidal.
Na opinião dele, o presidente
George W. Bush tinha outros motivos para prometer uma guerra
longa. "Bush está gozando de 90%
de popularidade, são os seus 15
minutos de fama", disse Vidal.
"Não é apenas errado (atacar o
Afeganistão), mas isso tem repercussões sobre as quais ele não
pensou. Ele gosta de ficar por cima. Quanto mais alto você se posicionar, mais vulnerável estará
ao ataque de um piloto kamikaze", observou o escritor.
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