São Paulo, quarta-feira, 24 de novembro de 2004

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ELEIÇÕES

Premiê anuncia planos para o ano que vem, lidos pela rainha Elizabeth 2ª

Tony Blair lança campanha centrada em crime e terror

DA REDAÇÃO

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, fará do combate à criminalidade e do terrorismo os pontos fortes de sua plataforma eleitoral, para obter, em maio, um terceiro mandato consecutivo para o Partido Trabalhista.
Suas prioridades para o período parlamentar que se abre foram lidas ontem no Parlamento pela rainha Elizabeth 2ª, seguindo tradição do país. A ênfase à segurança interna estimula o medo. Blair sinaliza uma campanha parecida à de seu maior aliado externo, o presidente George W. Bush.
Uma das atribuições da rainha é a leitura de declaração de intenções do governo, segundo um cerimonial que as transforma em intenções políticas do Estado.
A insistência em problemas de segurança leva os trabalhistas a furtarem por antecipação a plataforma dos conservadores, mais sensíveis a essas questões.
"Meu governo reconhece que vivemos tempos de incertezas globais, com a ameaça crescente do terrorismo internacional e do crime organizado", disse a rainha, em texto redigido por Blair.
As medidas anunciadas não são inéditas. Mas Blair inova ao juntá-las num único pacote e ao lhes dar um contexto atemorizante.
Introduzirá a obrigatoriedade de carteiras de identidade e criará a versão britânica do FBI americano -a Serious Organised Crime Agency- e proporá penas mais pesadas para crimes favorecidos por consumo de drogas ou álcool. Menores flagrados serão submetidos a teste de uso de drogas.
O premiê também anunciou a repressão a ativistas de direitos animais que atuam de modo criminoso, ao atacarem cientistas envolvidos em programas de experimentação com cobaias.
A rainha, em nome de Blair, não se referiu a propostas controvertidas da política antiterrorista, como a permissão de uso judicial de escutas telefônicas e o julgamento sem a participação de um júri.
O maior impacto está, no entanto, na adoção dos RGs, que serão implantados em 2007 e tornados obrigatório em 2012. Prevalecia no Reino Unido a tradição de que o Estado deve ter uma visão coletiva e anônima dos cidadãos. Com os RGs, dizem os defensores de direitos civis, ele terá instrumentos para implantar mecanismos de controle individual.
"Isso equivaleria a grudar um código de barras na pele de cada cidadão", disse Mark Littlewood, de um grupo de direitos civis.
Liam Fox, porta-voz dos conservadores, disse estar claro que "se estimula o medo ao terrorismo, o que é mesquinho por parte de um governo desesperado".
Outros críticos de Blair sinalizam que, ao centrar o foco na segurança interna, o governo dilui suas vulnerabilidades no Iraque, que são hoje o calcanhar-de-aquiles do gabinete trabalhista.
"Meu governo continuará a apoiar o governo do Iraque, em seu esforço de obter segurança e estabilidade e assegurar as eleições de janeiro", disse a rainha, numa breve menção à questão.
Blair também revelou seus planos quanto à Constituição européia, contra a qual hoje se opõe uma maioria de britânicos. Os eleitores deverão se pronunciar, mas só no início de 2006, para que a controvérsia não se misture aos planos de reeleição do premiê.
Ele ganharia tempo e contaria com uma reversão da tendência, já que o Reino Unido terá por um semestre, no ano que vem, a Presidência da União Européia e também presidirá o G-8, grupo dos países mais industrializados.

Impeachment
Um grupo de 23 deputados da oposição apresentará hoje à Câmara dos Comuns projeto de impeachment de Blair -o primeiro a tramitar desde o século 19-, por "grande erro" ao levar o país à Guerra do Iraque. O projeto não tem chances de aprovação num plenário majoritariamente controlado pelos trabalhistas.


Com agências internacionais


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