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ELEIÇÕES
Premiê anuncia planos para o ano que vem, lidos pela rainha Elizabeth 2ª
Tony Blair lança campanha centrada em crime e terror
DA REDAÇÃO
O primeiro-ministro britânico,
Tony Blair, fará do combate à criminalidade e do terrorismo os
pontos fortes de sua plataforma
eleitoral, para obter, em maio, um
terceiro mandato consecutivo para o Partido Trabalhista.
Suas prioridades para o período
parlamentar que se abre foram lidas ontem no Parlamento pela
rainha Elizabeth 2ª, seguindo tradição do país. A ênfase à segurança interna estimula o medo. Blair
sinaliza uma campanha parecida
à de seu maior aliado externo, o
presidente George W. Bush.
Uma das atribuições da rainha é
a leitura de declaração de intenções do governo, segundo um cerimonial que as transforma em
intenções políticas do Estado.
A insistência em problemas de
segurança leva os trabalhistas a
furtarem por antecipação a plataforma dos conservadores, mais
sensíveis a essas questões.
"Meu governo reconhece que
vivemos tempos de incertezas
globais, com a ameaça crescente
do terrorismo internacional e do
crime organizado", disse a rainha,
em texto redigido por Blair.
As medidas anunciadas não são
inéditas. Mas Blair inova ao juntá-las num único pacote e ao lhes dar
um contexto atemorizante.
Introduzirá a obrigatoriedade
de carteiras de identidade e criará
a versão britânica do FBI americano -a Serious Organised Crime
Agency- e proporá penas mais
pesadas para crimes favorecidos
por consumo de drogas ou álcool.
Menores flagrados serão submetidos a teste de uso de drogas.
O premiê também anunciou a
repressão a ativistas de direitos
animais que atuam de modo criminoso, ao atacarem cientistas
envolvidos em programas de experimentação com cobaias.
A rainha, em nome de Blair, não
se referiu a propostas controvertidas da política antiterrorista, como a permissão de uso judicial de
escutas telefônicas e o julgamento
sem a participação de um júri.
O maior impacto está, no entanto, na adoção dos RGs, que serão
implantados em 2007 e tornados
obrigatório em 2012. Prevalecia
no Reino Unido a tradição de que
o Estado deve ter uma visão coletiva e anônima dos cidadãos.
Com os RGs, dizem os defensores
de direitos civis, ele terá instrumentos para implantar mecanismos de controle individual.
"Isso equivaleria a grudar um
código de barras na pele de cada
cidadão", disse Mark Littlewood,
de um grupo de direitos civis.
Liam Fox, porta-voz dos conservadores, disse estar claro que
"se estimula o medo ao terrorismo, o que é mesquinho por parte
de um governo desesperado".
Outros críticos de Blair sinalizam que, ao centrar o foco na segurança interna, o governo dilui
suas vulnerabilidades no Iraque,
que são hoje o calcanhar-de-aquiles do gabinete trabalhista.
"Meu governo continuará a
apoiar o governo do Iraque, em
seu esforço de obter segurança e
estabilidade e assegurar as eleições de janeiro", disse a rainha,
numa breve menção à questão.
Blair também revelou seus planos quanto à Constituição européia, contra a qual hoje se opõe
uma maioria de britânicos. Os
eleitores deverão se pronunciar,
mas só no início de 2006, para que
a controvérsia não se misture aos
planos de reeleição do premiê.
Ele ganharia tempo e contaria
com uma reversão da tendência,
já que o Reino Unido terá por um
semestre, no ano que vem, a Presidência da União Européia e
também presidirá o G-8, grupo
dos países mais industrializados.
Impeachment
Um grupo de 23 deputados da
oposição apresentará hoje à Câmara dos Comuns projeto de impeachment de Blair -o primeiro
a tramitar desde o século 19-,
por "grande erro" ao levar o país à
Guerra do Iraque. O projeto não
tem chances de aprovação num
plenário majoritariamente controlado pelos trabalhistas.
Com agências internacionais
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