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Disputa entre estudantes fecha parte da Sorbonne
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Num dia em que os funcionários do transporte público começaram gradualmente a interromper a greve e voltar ao
trabalho, os estudantes franceses permaneceram em um impasse. A Universidade Sorbonne Nouvelle (Paris 3) foi fechada ontem depois de confrontos
entre estudantes.
De um lado, universitários
favoráveis ao projeto de lei que
garante autonomia às universidades. De outro, universitários
contrários à legislação e partidários de uma greve estudantil.
Com a intervenção da polícia,
a violência foi contida. A reitoria da Sorbonne decidiu fechar
o campus até segunda-feira. Na
terça, estudantes realizarão
uma assembléia para decidir se
vão continuar a tentativa de
bloqueio da universidade.
A situação da Sorbonne reproduz o que tem ocorrido em
diversos campi pela França.
Hoje 64 universidades, 75% do
total do país, estão bloqueadas.
"Não conseguimos assistir às
aulas. Logo na entrada do prédio, os estudantes improvisaram umas barricadas com mesas e cadeiras e fecharam a entrada principal. A diretora do
instituto [Instituto Francês de
Geopolítica] decidiu que queria
dar aula assim mesmo. Ela pediu para a gente entrar pelos
fundos. Conseguimos entrar,
mas com a gritaria não deu para
continuar a aula", conta Hélio
Castilho, mestrando na Universidade Paris 8.
"O clima não era muito de revolta. Parecia mais de festa.
Gente cantando, tudo meio improvisado", completou.
No campus da Universidade
de Rennes, a polícia interveio
para retirar os manifestantes
que ocupavam um prédio do
campus. Já a UNI, sindicato estudantil de direita, aconselha
os estudantes a entrar com
ações na Justiça para garantir o
direito de assistir às aulas.
Autonomia
O descontentamento da parte do movimento estudantil
que defende o bloqueio das universidades tem origem na Lei
Pécresse (nome da ministra do
Ensino Superior, Valérie Pécresse). A lei estipula um maior
grau de autonomia, especialmente em relação à gestão orçamentária das universidades.
Outro ponto diz respeito à possibilidade de as universidades
estabelecerem parcerias com a
iniciativa privada.
De acordo com a lei, "os estabelecimentos públicos de caráter científico, cultural e profissional podem criar uma ou várias fundações universitárias".
Essas fundações serão autônomas financeiramente.
Os estudantes contrários à
lei temem que ela signifique
uma privatização do ensino
universitário. Afirmam que os
investimentos privados vão
privilegiar um número restrito
de carreiras. Hoje a França tem
um dos sistemas universitários
mais baratos da Europa. A
anuidade para um curso de graduação é de 165.
Em uma entrevista publicada no jornal "Le Parisien" ontem, a ministra Pécresse defende a legislação. "Hoje, nas universidades, precisamos de dois
anos para tomar uma decisão,
para trocar um curso, contratar
um professor. A autonomia
permitirá às instituições tomar
decisões rápidas."
Segundo a ministra, 30 universidades decidiram passar ao
sistema de gestão autônoma
em janeiro de 2009. A lei determina a sua aplicação em todas
as universidades públicas francesas em até cinco anos.
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