São Paulo, sábado, 24 de novembro de 2007

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Disputa entre estudantes fecha parte da Sorbonne

CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Num dia em que os funcionários do transporte público começaram gradualmente a interromper a greve e voltar ao trabalho, os estudantes franceses permaneceram em um impasse. A Universidade Sorbonne Nouvelle (Paris 3) foi fechada ontem depois de confrontos entre estudantes.
De um lado, universitários favoráveis ao projeto de lei que garante autonomia às universidades. De outro, universitários contrários à legislação e partidários de uma greve estudantil.
Com a intervenção da polícia, a violência foi contida. A reitoria da Sorbonne decidiu fechar o campus até segunda-feira. Na terça, estudantes realizarão uma assembléia para decidir se vão continuar a tentativa de bloqueio da universidade.
A situação da Sorbonne reproduz o que tem ocorrido em diversos campi pela França. Hoje 64 universidades, 75% do total do país, estão bloqueadas. "Não conseguimos assistir às aulas. Logo na entrada do prédio, os estudantes improvisaram umas barricadas com mesas e cadeiras e fecharam a entrada principal. A diretora do instituto [Instituto Francês de Geopolítica] decidiu que queria dar aula assim mesmo. Ela pediu para a gente entrar pelos fundos. Conseguimos entrar, mas com a gritaria não deu para continuar a aula", conta Hélio Castilho, mestrando na Universidade Paris 8.
"O clima não era muito de revolta. Parecia mais de festa. Gente cantando, tudo meio improvisado", completou.
No campus da Universidade de Rennes, a polícia interveio para retirar os manifestantes que ocupavam um prédio do campus. Já a UNI, sindicato estudantil de direita, aconselha os estudantes a entrar com ações na Justiça para garantir o direito de assistir às aulas.

Autonomia
O descontentamento da parte do movimento estudantil que defende o bloqueio das universidades tem origem na Lei Pécresse (nome da ministra do Ensino Superior, Valérie Pécresse). A lei estipula um maior grau de autonomia, especialmente em relação à gestão orçamentária das universidades. Outro ponto diz respeito à possibilidade de as universidades estabelecerem parcerias com a iniciativa privada.
De acordo com a lei, "os estabelecimentos públicos de caráter científico, cultural e profissional podem criar uma ou várias fundações universitárias". Essas fundações serão autônomas financeiramente.
Os estudantes contrários à lei temem que ela signifique uma privatização do ensino universitário. Afirmam que os investimentos privados vão privilegiar um número restrito de carreiras. Hoje a França tem um dos sistemas universitários mais baratos da Europa. A anuidade para um curso de graduação é de 165.
Em uma entrevista publicada no jornal "Le Parisien" ontem, a ministra Pécresse defende a legislação. "Hoje, nas universidades, precisamos de dois anos para tomar uma decisão, para trocar um curso, contratar um professor. A autonomia permitirá às instituições tomar decisões rápidas."
Segundo a ministra, 30 universidades decidiram passar ao sistema de gestão autônoma em janeiro de 2009. A lei determina a sua aplicação em todas as universidades públicas francesas em até cinco anos.


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