São Paulo, quarta, 24 de dezembro de 1997.




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NAS CATACUMBAS
Regimes comunistas e alguns países islâmicos levam seguidores do cristianismo a praticar cultos escondidos
Cristãos se escondem para festejar Natal

MARCELO MUSA CAVALLARI
da Redação

Enquanto as cidades e casas de cristãos brilham com os sinais ex ternos do Natal, há países em que os cristãos têm de se esconder para festejar o nascimento de Jesus.
O cristianismo sempre valorizou a idéia de martírio. O dia seguinte ao do Natal é dia de santo Estêvão, o primeiro mártir cristão, morto pelos judeus no século 1º.
"A história chocante, e não con tada de nosso tempo, é que mais cristãos morreram neste século simplesmente por serem cristãos do que em todos os 19 séculos pre cedentes", diz a norte-americana Nina Shea, autora de "Na Cova dos Leões", relato sobre persegui ção a cristãos hoje.
Os focos de perseguição são regi mes comunistas e alguns países is lâmicos.
A Arábia Saudita -aliada dos EUA no Oriente Médio- proíbe a prática pública ou privada de qual quer religião que não seja o Islã.
É proibido possuir símbolos ou livros de outras religiões. A ordem atingiu até mesmo os soldados americanos que lutaram na Guerra do Golfo em 1991.
Nos Emirados Árabes Unidos, também do bloco moderado no mundo islâmico, Robert Hussein foi condenado à morte em 96 por ter se convertido ao cristianismo.
Ele alegou que a Constituição do país garante a liberdade religiosa. "Mas essa liberdade brota dos en sinamentos de Maomé. A Consti tuição respeita o direito de que se pratique a religião sem medo de vi gilância, mas isso não significa que um muçulmano tem o direito de passar para outra religião", afirma a sentença da Corte Suprema.
Ambos os países pertencem à ONU. O artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos do Ho mem, proclamada pelas Nações Unidas em 1948, diz: "Todos têm direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de reli gião ou crença, e a liberdade de manifestar particular ou publica mente sua religião ou crença".
A China só permite a prática em instituições estatais responsáveis por cada crença.
Assim, só a Associação Católica Patriótica Chinesa pode celebrar ritos, ensinar, etc. É uma institui ção estatal, que não admite "a in terferência" do Vaticano.
O governo chinês não dá núme ros, mas muitos padres e fiéis cató licos que se recusam a aderir à igreja patriótica estão presos, con denados por "subversão".
O maior exemplo é o do cardeal Ignatius Pin Mei Kung. Ex-bispo de Xangai, Kung ficou preso de 1955 a 85. Após mais dois anos em prisão domiciliar, foi para os EUA.
Kung foi criado cardeal em 79, mas a decisão do papa João Paulo 2º ficou em segredo até 91.
A Coréia do Norte adota a mes ma estratégia que a China.
O Vietnã não proíbe a Igreja, mas o estabelecimento de templos, conventos e seminários depende de autorização estatal. Há dezenas de padres presos por subversão e vários morreram na prisão.
Em Cuba, o governo comunista decretou feriado no Natal pela pri meira vez desde 69. O regime de Fidel Castro tem aumentado a li berdade religiosa em vista da visita do papa, em janeiro.
O Paquistão não proíbe o catoli cismo nem dificulta a atuação da Igreja. No entanto, a Lei da Blasfê mia tem prejudicado principal mente cristãos.
Aprovada em 86, a lei pune, até com a morte, quem "oralmente ou por escrito, por alguma repre sentação visual, por alguma impu tação ou insinuação, direta ou in diretamente manche o sagrado nome do profeta" Maomé.
Como os cristãos não aceitam Maomé como profeta, indireta mente dizem que ele está mentin do. Em 1995, Salamat Masih, um cristão de 14 anos, foi condenado à morte com base nessa lei.
Ele foi acusado de escrever con tra Maomé na parede de uma mes quita quando tinha 12 anos. Masih, no entanto, era analfabeto. Por pressão internacional, ele teve a pena suspensa e vive na Alema nha, por medo de ser morto.
Esse é o temor dos cristãos cop tas, cerca de 10% da população egípcia. Têm liberdade por parte do Estado, mas enfrentam o ódio dos extremistas muçulmanos.



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