PAUL HOLMES
da "Reuters"

Neste Natal, os cristãos relembram como, há 2.000 anos, foi a jornada de Maria e José, de Nazaré para Belém, onde Jesus Cristo nasceu em uma manjedoura porque não havia para o casal nenhum quarto na estalagem.
Essa tradicional narrativa, contudo, é falsa, segundo o historiador do Novo Testamento e padre católico Jerome Murphy-O'Connor. A história do nascimento de Jesus, garante, é diferente.
O padre O'Connor conta que José e sua segunda mulher, Maria, já estavam residindo em Belém com os pais do noivo, e Jesus nascera na parte de trás da casa, em uma caverna que servia de abrigo aos animais domésticos.
Para o estudioso, Maria teve Jesus em uma manjedoura não "porque faltava um quarto para o casal na casa", mas, sim, "porque não havia espaço para todos que ali estavam".
"Se considerarmos que José teve seis filhos com a primeira mulher, podemos imaginar um espaço físico tomado de muita gente", argumenta O'Connor, durante entrevista em Jerusalém.
Irlandês de 64 anos, o especialista passou 37 anos pesquisando a história e arqueologia da Terra Santa. A sua interpretação das histórias da Natividade (nascimento de Cristo) se baseia em meticuloso trabalho investigativo. "Todos os fatos estão aí, só é preciso ordená-los de um modo diferente."
Ele observa que, enquanto tantos presépios, que descrevem a cena do nascimento de Jesus, são construídos como sendo um estábulo de madeira, muitas moradias em Belém, à época de Jesus, eram erguidas dentro de grutas.
O'Connor recorda que o lugar reverenciado pelos cristãos em Belém como local onde nasceu Jesus é uma gruta, situada abaixo da Igreja da Natividade.
Somente no evangelho de Lucas se encontra a versão tradicional, segundo O'Connor, pela qual José e Maria teriam percorrido 150 km, de Nazaré a Belém, para responder a um censo romano.
O'Connor diz também que a aparição de um anjo perante pastores à noite, para anunciar o nascimento de Jesus, seria na verdade alguém da casa de José e Maria levando até os pastores a boa nova.


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