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ORIENTE MÉDIO
Ruas estão vazias e elite da cidade se muda para Europa por causa da ausência de turistas, assustados com a Intifada
Violência esvazia Natal de Belém pelo 4º ano
MICHEL GAWENDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE BELÉM
A celebração de Natal na cidade
onde, segundo a tradição, nasceu
Jesus serão mais uma vez modestas e sem os milhares de turistas e
peregrinos que, até 1999, lotavam
lojas, hotéis e restaurantes de Belém, na Cisjordânia ocupada.
Desde o início da Intifada -o
levante armado palestino contra a
ocupação-, em setembro de
2000, e as consequentes incursões
do Exército de Israel, Belém vem
sofrendo com a falta de turismo,
sua principal atividade econômica.
O desemprego em partes da cidade, segundo dados oficiais, chega a 60%. Muitas lojas fecharam,
os hotéis estão vazios, e os cristãos
da cidade dizem que o Natal não
será alegre para eles em 2003.
Os comerciantes esperam a chegada de apenas algumas centenas
de turistas nesta semana de Natal,
não o fluxo de milhares de visitantes e peregrinos, principalmente
da Europa e da Ásia, que tomavam a praça da Manjedoura nesta
época do ano.
Na principal via comercial, conhecida como avenida da Manjedoura, a maioria das lojas de artesanato para turistas estava fechada dois dias antes do Natal. Os sinais natalinos na rua são luzes representando estrelas cadentes e
uma faixa saudando um grupo de
peregrinos coreanos, na única excursão organizada que estava na
cidade no início da semana.
Algumas lojas exibiam mensagens natalinas nas vitrines e papais noéis infláveis nas portas.
Mas nada comparado ao colorido
do comércio no Brasil e no mundo e na Belém pré-2000.
Loja vazia
Na loja de Tawfic Lama, 40, uma
das mais conhecidas de Belém,
quatro funcionários aproveitavam o tempo livre para arrumar a
mercadoria: candelabros judaicos, tabuleiros de gamão e, principalmente, esculturas com temas
religiosos cristãos talhados em
madeira de oliveira, o artesanato
típico da região.
"Talvez venha um ônibus de turistas hoje", disse um vendedor.
"Antes de 2000, vinham até 20
ônibus por dia, e a loja tinha quase 40 empregados."
Lama também tem um restaurante. E, animado pelo crescimento do turismo nos anos 1990,
começou a construir um hotel em
cima da loja. Mas, com a queda
brutal nos negócios, abandonou a
obra em 2001.
"Os negócios vão mal. Muitas
famílias foram embora para a Europa. Conheço gente que está
vendendo jóias de família para
comprar presentes de Natal para
os filhos", disse o empresário, que
começou a carreira há 30 anos
vendendo cartões postais diante
da Igreja da Natividade.
Na igreja, que abriga o local onde, segundo a tradição, Jesus nasceu, havia mais jornalistas que turistas. "Antes de 2000 os guias não
podiam dar as explicações históricas aos grupos dentro da igreja
para não atrapalhar o fluxo de
pessoas, e o tempo de espera para
entrar era de no mínimo de 40 minutos nesta época do ano. Hoje
recebo no máximo um grupo por
mês e não tenho nada marcado
para o Natal", disse o guia Rajai
Manzo, 42.
Apenas um grupo de italianos,
com a bandeira do país estampada na roupa, esperava para entrar
no local mais sagrado da igreja -
a gruta que marca o local tradicional do nascimento de Jesus e da
manjedoura onde, segundo a religião católica, recebeu a visita dos
Reis Magos. "Não estou sentindo
medo de estar aqui, mas achamos
melhor usar roupas identificando
de onde somos, pois não temos
nada a ver com o conflito", disse
Ferdinando Alesi, 17.
Na porta da igreja não há a confusão de vendedores de suvenires,
comum em locais de grande atração turística, só dois vendedores
palestinos. A 200 metros, o centro
comercial construído durante a
euforia do processo de paz entre
Israel e palestinos na década de
90, para o Jubileu do ano 2000, está abandonado. Os três andares
de estacionamentos - erguidos
para receber centenas de ônibus
- estão vazios. As portas do edifício moderno com fachada de vidro escuro continuam trancadas,
e o lixo se acumula na entrada.
Fuga para a Europa
Outro fenômeno causado pela
crise é a saída de moradores em
direção à Europa. Não há estatísticas oficiais, e o tema é considerado tabu, mas moradores dizem
que mais de 400 famílias, especialmente da elite cristã, já partiram.
A não ser pela presença de policiais palestinos com rifles automáticos, não há sinais de conflito
na cidade. O posto militar israelense mais próximo está a cerca de
4 quilômetros da entrada da cidade e não se vê palestinos armados.
Ou seja, nenhuma lembrança das
cenas de conflito ao redor da Igreja da Natividade que marcaram o
Natal de 2002.
Os guias locais insistem que os
turistas nunca sofreram consequências diretas dos conflitos entre israelenses e palestinos.
Mas pode-se sentir o clima tenso. Ao contrário da tradicional
hospitalidade árabe e da insistência costumeira de vendedores,
pouca gente se aventura a conversar com estrangeiros em Belém.
As autoridades religiosas católica, ortodoxas e armênias da Igreja
da Natividade procuradas pela reportagem no local também se recusaram a conversar, alegando
falta de tempo, mesmo com a ausência de turismo.
Ninguém, dentro ou fora da
igreja, quis comentar a falta de peregrinos, nem a proibição israelense da participação do presidente da Autoridade Palestina, o
muçulmano Iasser Arafat, nas celebrações natalinas em Belém pelo quarto ano seguido.
"Não sei quem é quem por aqui.
Posso estar conversando com alguém que trabalha para os israelenses. Posso também estar conversando com um militante muçulmano sem saber", disse um
ambulante.
Há disposição só para falar da
ocupação israelense e, principalmente, da barreira que Israel está
construindo para, segundo o país,
evitar a entrada de terroristas suicidas em seu território. Mas, na
prática, ela demarca de forma
unilateral a fronteira entre o país e
a Cisjordânia, incluindo parte das
áreas palestinas em Israel.
Na aldeia de Beit Sahour, na periferia de Belém, a cerca isolou
plantações de oliveiras e, em alguns pontos, passa a apenas dois
metros da casa de palestinos. A
centenas de metros é possível ver
o assentamento judaico de Har
Homa, que ainda está sendo construído. "Pode olhar ali atrás que
você verá as máquinas de Israel
trabalhando", disse o técnico de
computadores Ibrahim, balançando a cabeça em reprovação.
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